Uma reflexão à guisa de avaliação sobre a Semana Dom Helder Camara.
Já se passaram duas semanas .....
Ao cair da tarde daquela sexta-feira, dia 02 de outubro, um grupo de mais ou menos 120 pessoas encontrava-se reunido no Passeio Público, antiga Praça dos Mártires. Cantando “Dom Helder Camara, grande profeta, reconhecido por toda nação. A imagem que gostaria que ficasse, é de um irmão!”, foi colocada, em uma das árvores centenárias, uma placa comemorativa daquele que, há cem anos, nascia em frente a este histórico e belo logradouro de Fortaleza: HELDER PESSOA CAMARA.
Encerrava-se deste modo uma semana comemorativa.
Comemoração?
Uma semana sem festa, porém sustentada pela reflexão pessoal e comunitária, aquela que leva ao compromisso ......
Uma semana sem discursos (vazios), porém cheia de pensamentos críticos sobre nós mesmos, sobre a sociedade na qual vivemos, sobre a igreja que somos (ou deveríamos ser) .....
Uma semana sem dogmas magisteriais, porém dirigida por dicas, dando rumo a propostas de construção de um mundo de irmãos e irmãs.....
Uma semana sem teologia do tipo “avestruz”, porém aquela reflexão teológica de cabeça erguida, de cara a cara com a realidade, “fermento da terra e luz do mundo” (cf. Mt 5, 13.14) .....
Uma semana sem grandes platéias, mas marcada por uma presença bela por ser eclética (= includente), verdadeira, vivenciada .....
Uma semana sem solistas, sem estrelas, porém profundamente carregada por um sentimento comunitário, de co-reponsabilidade e participação ....
Uma semana sem gerar falsas esperanças, porém incentivada pelos compromissos com a construção de uma paz, já sentida por todos que ali se experimentaram irmãos e irmãs ..... .
Uma semana sem resmungar o passado, sem murmurar sobre “os outros”, porém grávida de expectativas por juntar pessoas que vêem, lá na frente, possibilidades e condições de realizarem “um novo céu e uma nova terra!” (cf. Ap. 21,1) .....
Uma semana que, no entardecer daquele belo dia, terminara em um grande e emocionante abraço de paz .....
Uma semana helderiana..... de paz helderiana!
A presença extraordinária das pessoas nas duas apresentações do filme “Dom Helder, o santo rebelde!” já anunciara que algo de bom estava para acontecer, o que se confirmara nas três noites das conferências.
A diversidade de participantes nas noites das conferências chamou muita atenção a nós que estávamos a serviço dos mesmos: gente das comunidades, estudantes de níveis diversos, professores tanto da rede pública, como privada, do ensino básico ao universitário, pessoas engajadas em movimentos eclesiais, gente já idosa em idade, mas jovem em espírito, religiosas, uns poucos seminaristas e, escassamente, uns muito poucos padres ..... e .... um bispo, nosso bravo e sempre presente Dom Edmilson.
A caminhada, na sexta-feira desta memorável semana, pelas ruas do centro da nossa cidade tornou-se um momento de singela tranqüilidade. Não havia grande massa de pessoas cantando “alleluia” e batendo palmas. Os que pisavam o asfalto quente nas ruas comerciais de Fortaleza pareciam mais uma “minoria abraâmica”, como Dom Helder qualificava os pequenos agrupamentos de pessoas que acreditam em um mundo diferente, mais humano, mais de Deus. Portando faixas com dizeres fortes a respeito da vida e pirulitos apresentando o rosto e o semblante daqueles que já nos antecederam no cumprimento de sua missão (Irmã Dorothy Stang, Dom Helder Camara, Dom Aloísio Lorscheider e Dom Oscar Romero) e, animados por cantos relativos à luta por um mundo melhor, caminhávamos desde a Praça da Igreja do Carmo até o Passeio Público, fazendo uma parada em frente á catedral, sendo acompanhados por olhares e gestos de aprovação por parte de pessoas que se encontravam nas calçadas e no interior dos estabelecimentos comerciais. Pairava paz e soprava uma brisa de irmandade pelas ruas do centro de Fortaleza, normalmente tão tumultuado.
Mas, de que paz estaria falando? O Dom da Paz, Helder Camara, novamente nos ensina: “Nós não queremos a paz dos pântanos, a paz enganadora que esconde injustiças e podridão!”
Trata-se da paz que significa movimento, aquela que acorda a todos nós da nossa quase que eterna sonolência frente às grandes questões da humanidade: o grande espiral da violência que gera miséria, fome, injustiças, abismo cada vez mais profundo entre os poucos ricos e os muitos pobres.
É a paz que mexe, que bota todos nós de pé, de olhos abertos e ouvidos atentos a fim de percebermos os sinais dos nossos tempos, arrancando o mal e plantando o bem.
É a paz dos dois momentos essenciais à nossa vida: da reflexão, do aprofundamento, do retirar-se, do “subir a montanha” para escutar a voz dAquele que tem algo a nos dizer e, evidentemente, de escutar as realidades terrestres. E é, em seguida, o momento de “descer da montanha” e estender a mão, transformando água em vinho.
É a paz ativa que invade, impulsiona e encoraja o profeta.
Lembro-me de algumas das últimas palavras que Dom Helder sussurrou dois dias antes de sua despedida em agosto de 1999: “Não deixem cair o profetismo!”
A paz do profeta, por certo, é aquela que dá tranqüilidade, serenidade e segurança ao próprio profeta. Somente assim, ele terá coragem sem limites para mexer com aquelas estruturas, que permitem e sustentam todos os projetos destrutivos de poder de um ser humano sobre outro, de uma facção política sobre outra, de uma crença religiosa sobre outra, de uma igreja sobre outra. Dom Helder, em sua “Sinfonia dos dois mundos” nos interroga: “Quem revolverá as pesadas estruturas que esmagam aos milhões os filhos de Deus, que chegam a matar mais do que as guerras mais sangrentas?!”
A paz profética exige desinstalar-se das suas certezas, dos seus poderosos dogmas, das cômodas posições, da vida da brisa mansa.
A paz do profeta é aquela que acredita que “..... quanto mais escura a noite for, mais bela a Aurora será.....!”
Fortaleza, 17 de outubro de 2009,
Geraldo Frencken, teólogo e membro de “O GRUPO”
terça-feira, 20 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Uma Semana do barulho (2)
O que a Semana Dom Helder Camara demonstrou?
A “franquia Dom Helder” é poderosa: abre portas, aglutina pessoas, causa admiração, toca corações. Hoje, há quase unanimidade no reconhecimento de sua figura como um dos grandes brasileiros do século XX. É personagem “canônico” (no sentido de: normativo, referencial) para cristãos e não-cristãos socialmente engajados e críticos.
A memória de Helder Camara, saudosa para uns, parece dolorosa para outros. A completa ausência de representantes clericais da Arquidiocese de Fortaleza, ao longo de todos os eventos da Semana, revela má vontade de prestigiar um bispo profeta que, pela seriedade e radicalidade do seu compromisso com pobres e perseguidos, faz parecer pequenos e omissos os atuais titulares eclesiásticos. Ganha-se a impressão de que estes estão fugindo da comparação.
Causou certo mal-estar nos corredores do Seminário da Prainha o fato de a Semana, realizada por um “grupo de particulares”, ter conseguido aglutinar bem mais gente – inclusive entre os próprios estudantes – do que certos eventos acadêmicos oficiais, promovidos pela Instituição. Aqui, duas possibilidades de explicação se oferecem: (1) Um público mais crítico e pensante preferirá sempre uma temática e uma abordagem mais controversa, mais contundente, mais incisiva a outras temáticas e abordagens óbvias, enfadonhas e pouco ousadas, ainda que mais “ortodoxas”. (2) A Semana não se restringiu a uma temática intra-eclesial, nem primou por um discurso “igrejeiro”, praticado ad nauseam no gueto eclesiástico, mas procurou articular o legado de Helder Camara com os desafios da sociedade atual, o que atrai também um público menos “especializado” e mais secularizado.
Há, em Fortaleza, um considerável número de cristãos/cristãs insatisfeitos/as com os dois tipos de catolicismo atualmente em voga: o tradicional-ortodoxo-oficial da hierarquia e o carismático-pentecostal-espiritualista dos movimentos apostólicos. Deu para perceber, sobretudo nos momentos de debate que seguiam às conferências e ao filme, quantos indivíduos estão à procura de um catolicismo/cristianismo “de terceira via”, um projeto eclesial que Pe. José Comblin tem batizado de “cristianismo humanista”.
Nós cristãos/cristãs insatisfeitos/as não possuímos, até agora, clareza sobre como se poderia articular e construir este projeto eclesial, alternativo aos dois supracitados modelos “majoritários”, em parte porque muitos de nós ainda sentem saudade da geração dos bispos-profetas e preferem lamentar a “guinada” (leia-se: traição!) que a igreja hierárquica deu em direção aos movimentos espiritualistas de massa. Um problema adicional encontra-se no fato das pessoas, hoje, viverem individualizadas, dispersas, desarticuladas, não organizadas em comunidades – eclesiais ou não – , movimentos ou grupos.
É urgente a tarefa de proporcionarmos a este contingente considerável de pessoas uma oportunidade periódica (mensal?) de encontrarem-se para trocar idéias e experiências, acompanhar palestras sobre temas palpitantes e atuais, confraternizar-se e celebrar sua fé, em um local central em Fortaleza, de fácil acesso, que pudesse tornar-se um “point” conhecido para cristãos/ãs de fé madura e de senso crítico. Este “Grande Encontro” mensal poderia remediar a terrível sensação de diáspora, abandono e angústia que se abateu sobre quem esperava da Igreja de Cristo mais do que defesa da ortodoxia e louvor entusiástico ao santíssimo sacramento...
Um “link” interessante e promissor foi estabelecido, através da vinda de três conferencistas de Recife, entre a igreja dos “inconformados” daqui com a de lá. Foi um grande alento que Pe. João Pubben, Ir. Ivone Gebara e Reginaldo Veloso experimentaram entre nós, quando se viram acolhidos/a por enorme e interessado público. Oxalá outros momentos significativos possam acontecer para aprofundar e fazer render a “conexão Recife”.
“O Grupo” continuará sensível à memória perigosa e incômoda da tradição profética do Cristianismo, tão esquecida e relegada na atual conjuntura eclesial. Aguardem!
Carlo Tursi, teólogo e membro de “O Grupo”
A “franquia Dom Helder” é poderosa: abre portas, aglutina pessoas, causa admiração, toca corações. Hoje, há quase unanimidade no reconhecimento de sua figura como um dos grandes brasileiros do século XX. É personagem “canônico” (no sentido de: normativo, referencial) para cristãos e não-cristãos socialmente engajados e críticos.
A memória de Helder Camara, saudosa para uns, parece dolorosa para outros. A completa ausência de representantes clericais da Arquidiocese de Fortaleza, ao longo de todos os eventos da Semana, revela má vontade de prestigiar um bispo profeta que, pela seriedade e radicalidade do seu compromisso com pobres e perseguidos, faz parecer pequenos e omissos os atuais titulares eclesiásticos. Ganha-se a impressão de que estes estão fugindo da comparação.
Causou certo mal-estar nos corredores do Seminário da Prainha o fato de a Semana, realizada por um “grupo de particulares”, ter conseguido aglutinar bem mais gente – inclusive entre os próprios estudantes – do que certos eventos acadêmicos oficiais, promovidos pela Instituição. Aqui, duas possibilidades de explicação se oferecem: (1) Um público mais crítico e pensante preferirá sempre uma temática e uma abordagem mais controversa, mais contundente, mais incisiva a outras temáticas e abordagens óbvias, enfadonhas e pouco ousadas, ainda que mais “ortodoxas”. (2) A Semana não se restringiu a uma temática intra-eclesial, nem primou por um discurso “igrejeiro”, praticado ad nauseam no gueto eclesiástico, mas procurou articular o legado de Helder Camara com os desafios da sociedade atual, o que atrai também um público menos “especializado” e mais secularizado.
Há, em Fortaleza, um considerável número de cristãos/cristãs insatisfeitos/as com os dois tipos de catolicismo atualmente em voga: o tradicional-ortodoxo-oficial da hierarquia e o carismático-pentecostal-espiritualista dos movimentos apostólicos. Deu para perceber, sobretudo nos momentos de debate que seguiam às conferências e ao filme, quantos indivíduos estão à procura de um catolicismo/cristianismo “de terceira via”, um projeto eclesial que Pe. José Comblin tem batizado de “cristianismo humanista”.
Nós cristãos/cristãs insatisfeitos/as não possuímos, até agora, clareza sobre como se poderia articular e construir este projeto eclesial, alternativo aos dois supracitados modelos “majoritários”, em parte porque muitos de nós ainda sentem saudade da geração dos bispos-profetas e preferem lamentar a “guinada” (leia-se: traição!) que a igreja hierárquica deu em direção aos movimentos espiritualistas de massa. Um problema adicional encontra-se no fato das pessoas, hoje, viverem individualizadas, dispersas, desarticuladas, não organizadas em comunidades – eclesiais ou não – , movimentos ou grupos.
É urgente a tarefa de proporcionarmos a este contingente considerável de pessoas uma oportunidade periódica (mensal?) de encontrarem-se para trocar idéias e experiências, acompanhar palestras sobre temas palpitantes e atuais, confraternizar-se e celebrar sua fé, em um local central em Fortaleza, de fácil acesso, que pudesse tornar-se um “point” conhecido para cristãos/ãs de fé madura e de senso crítico. Este “Grande Encontro” mensal poderia remediar a terrível sensação de diáspora, abandono e angústia que se abateu sobre quem esperava da Igreja de Cristo mais do que defesa da ortodoxia e louvor entusiástico ao santíssimo sacramento...
Um “link” interessante e promissor foi estabelecido, através da vinda de três conferencistas de Recife, entre a igreja dos “inconformados” daqui com a de lá. Foi um grande alento que Pe. João Pubben, Ir. Ivone Gebara e Reginaldo Veloso experimentaram entre nós, quando se viram acolhidos/a por enorme e interessado público. Oxalá outros momentos significativos possam acontecer para aprofundar e fazer render a “conexão Recife”.
“O Grupo” continuará sensível à memória perigosa e incômoda da tradição profética do Cristianismo, tão esquecida e relegada na atual conjuntura eclesial. Aguardem!
Carlo Tursi, teólogo e membro de “O Grupo”
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
“A EXPERIÊNCIA ENSINA O BISPO”
“A EXPERIÊNCIA ENSINA O BISPO”
Já está à disposição o livro, pequeno em tamanho, mas grande em coragem e franqueza, “A experiência ensina o bispo” de Dom Clemente Isnard, O.S.B. . O bispo emérito de Nova Friburgo nos apresenta, em quatorze pequenos capítulos, aspectos da vida interna da Igreja, que merecem avaliação, um olhar crítico, uma reflexão. Dom Clemente nos fala a respeito da “Eleição do Papa”, da função dos “Bispos Auxiliares”, dos “Monsenhores” e demais “Títulos honoríficos”, sobre “O Medo e o carreirismo” presente no meio e clero e assim por diante. Recebe muito destaque o nosso querido Dom Aloísio Lorscheider, de quem são citadas muitas passagens do seu livro-entrevista “Mantenham as lâmpadas acesas” (organizado pelo “O GRUPO” e editado pela UFC, 2008), mostrando como os dois bispos estão numa mesma linha avaliativa a respeito da vida da Igreja.
Embora sob protestos de alguns setores da Igreja, Dom Clemente lançou este seu segundo livro em Recife (agosto), Rio de Janeiro (setembro). O lançamento na nossa cidade aconteceu no dia 01 de outubro último. Dom Clemente não pode fazer-se presente naquela última noite da “Semana Dom Helder Camara”, pois se encontrava doente em Recife, mas o seu secretário, Padre José Romero Freitas, veio representá-lo. Somente nesta noite foram vendidos 85 exemplares. Nós, “O GRUPO”, a comissão organizadora da Semana Dom Helder Camara e muitos presentes, assinamos uma carta, mostrando nossa solidariedade ao Dom Clemente (veja a carta logo abaixo).
O livro pode ser adquirido com Carlo Tursi e Geraldo Frencken nas segundas-, quartas- e quintas-feiras no Seminário da Prainha entre 17:30 e 18:30 h., através do endereço eletrônico de “O GRUPO”: ogrupo2@yahoo.com.br, e na:“TABERNA LIBRARIA”
(Rua Coronel Alves Teixeira, 2090 - Dionísio Torres)
09:00 hs às 12:00 hs e 14:00 às 17:30 hs (segunda a sexta)
09:00 hs às 12:00 hs (sábado)
taberlib@matrix.com.br
www.tabernalibraria.com.br
Caro Dom Clemente,
A paz esteja com o senhor!
Nós, suas amigas e seus amigos de Fortaleza, desejamos, antes de tudo, que o senhor possa gozar de boa saúde.
Como seu primeiro livro, também o segundo está sendo muito bem recebido entre nós. Podemos afirmar que ele tornar-se-á assunto de estudo para muitos. Através de seus escritos, o senhor nos ajuda a aprofundarmos a nossa reflexão a respeito da distinção entre a Igreja arquitetada pelos homens e a Igreja desejada por Cristo, aquela que se constrói sobre a pedra dos valores evangélicos.
Dom Clemente, estamos unidas e unidos ao senhor e desejamos que seus dias sejam de paz, tranqüilidade e felicidade.
Enviamos o abraço em Cristo do povo em marcha na caminhada “AI DE MIM SE EU ME CALAR!”.
Fortaleza, 02 de outubro de 2009, dia de encerramento da “Semana Dom Helder Camara”.
(seguem 82 assinaturas, coletadas ao término da caminhada)
Vale a pena conseguir este livro e refletir seu conteúdo com outras pessoas, buscando ser mais criterioso(a) a respeito de tudo aquilo que é considerado “normal” na nossa Igreja.
Geraldo Frencken (teólogo e membro de “O GRUPO”)
Confira também no site da AnotE - www.anote.org.br
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Uma Semana do barulho
Uma Semana do barulho (1)
Findou a Semana Dom Helder Camara em Fortaleza, ao entardecer do dia 02 de outubro, quando uma placa comemorativa foi fixada, por umas 120 pessoas, a uma árvore do Passeio Público (“Praça dos Mártires”, para os iniciados), frente ao local onde Helder Pessoa Camara veio ao mundo, em 7 de fevereiro de 1909. Passados alguns dias, pode-se arriscar uma primeira avaliação. Colocamos, para tanto, alguns dados da Semana à disposição:
• As duas ocasiões em que o documentário “Dom Helder – o santo rebelde” foi projetado, no teatro do Centro Cultural Dragão do Mar (cujo apoio “O Grupo” não se cansa de agradecer), reuniram ao todo um público de aproximadamente 550 pessoas, de idades e classes sociais bem diversificadas, sendo que a 1ª sessão (sábado à noite) superlotou e um número não pequeno de interessados ficou sem ver o filme. Significativa foi a presença da juventude de vários bairros da cidade. O debate que se seguiu às duas sessões criou oportunidade para testemunhos pessoais fortes e, aqui e acolá, comoventes; o professor de História da UFC, Dr. Régis Lopes, soube contextualizar a figura de Dom Helder sem abafar as participações da platéia. A ele, nossa gratidão!
• Durante o ciclo de conferências no auditório do Colégio Santo Tomás de Aquino (igualmente merecedor dos nossos mais profundos agradecimentos), registrou-se nas três noites, em média, uma platéia de 275 pessoas! A participação da juventude neste ambiente mais reflexivo, porém, foi escassa. As bolsas e camisas comemorativas, colocadas à venda por “O Grupo”, encontraram grande saída, de forma que sobraram poucas. Só na última noite, 85 exemplares do livro polêmico de Dom Clemente Isnard (“A Experiência ensina o Bispo”) foram vendidos. O jornalista cearense Luís Carlos Fonteles, da Rádio Senado de Brasília, veio especialmente a Fortaleza para disponibilizar, aos participantes do evento, 60 cópias de um documentário radiofônico produzido recentemente por ele, intitulado “Um homem chamado Helder”. O CD pode ser adquirido, gratuitamente, através de “O GRUPO”. Valeu, Luís Carlos! Percebemos a mão de Deus (e de dom Helder, claro...) em tudo isso...
• Entre 120 e 140 pessoas acompanharam em plena tarde de sexta-feira a Caminhada “Ai de mim se eu me calar”, pelas ruas do centro comercial de Fortaleza, cantando hinos em homenagem a cristãos (e até a não-cristãos como o “Betinho”!) que exerceram um papel profético na sociedade brasileira. Um texto profético forte (“Oração a Mariama”) de dom Helder Camara foi declamado frente à catedral metropolitana, chamando a igreja local para um engajamento maior e mais contundente nos conflitos sociais de nossa cidade. Ponto alto foi a proclamação, no final do percurso, de um “Pacto da Praça dos Mártires”, assumido pelos manifestantes, em analogia ao “Pacto das Catacumbas” no qual, em 16 de novembro de 1965, 40 bispos de vários continentes e países se comprometeram, na catacumba de Santa Domitila em Roma, a fazer da libertação dos pobres e oprimidos a causa principal do seu ministério.
• Digna de registro foi a presença – sempre discreta, porém firme e solidária – de Dom Edmilson Cruz durante as conferências noturnas. Justamente por ter sido a única autoridade eclesiástica a prestigiar o evento (não que os outros bispos não tenham sido convidados, nominalmente e por escrito...!), a ele um especial abraço fraterno!
• Agradecemos ainda o apoio valioso recebido da livraria católica Paulus, fiel companheira neste tipo de promoção, e da Rádio Dom Bosco que caprichou na divulgação da Semana. Finalmente: O porte magnífico do evento não teria sido possível sem o generoso patrocínio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) – o que só prova, mais uma vez, que há um amplo reconhecimento dos méritos de Dom Helder em meio à sociedade civil, enquanto no interior das igrejas cristãs os “referenciais” já são outros... Portanto, “O Grupo” aplaude de pé a sensibilidade social e cultural do comitê do BNB que foi responsável pelo patrocino!
• Único jornal impresso de grande circulação que veiculou, através de quatro matérias diferentes (entre elas um editorial), notícias acerca da Semana foi “O POVO”. Conseguir uma entrevista, em suas cobiçadas “Páginas Azuis”, com o bispo emérito de Nova Friburgo (RJ), Dom Clemente Isnard, mostrou-se um sonho irrealizável, dada a impossibilidade do nonagenário de deixar o hospital em Recife, onde se encontrava internado.
Um belo trabalho de divulgação foi levado a acabo pela Agência de Notícias Esperança (ANOTE), sobretudo através da criação do blog. Pela ADITAL e – pasmem! – pelo site da Rádio Vaticano que por duas vezes publicou a agenda da Semana! Também o boletim da Arquidiocese incluiu o evento em suas comunicações. A todos e todas que contribuíram para o êxito desta “semana do barulho” estendemos o nosso abraço fraterno e “arrochado”!
Agora: Que lições tirar disso tudo? Quais as pistas para um trabalho continuado de conscientização no futuro próximo? – Voltaremos em breve à carga para tratar destas questões ...
To be continued...
Carlo Tursi, teólogo e membro de “O GRUPO”
Findou a Semana Dom Helder Camara em Fortaleza, ao entardecer do dia 02 de outubro, quando uma placa comemorativa foi fixada, por umas 120 pessoas, a uma árvore do Passeio Público (“Praça dos Mártires”, para os iniciados), frente ao local onde Helder Pessoa Camara veio ao mundo, em 7 de fevereiro de 1909. Passados alguns dias, pode-se arriscar uma primeira avaliação. Colocamos, para tanto, alguns dados da Semana à disposição:
• As duas ocasiões em que o documentário “Dom Helder – o santo rebelde” foi projetado, no teatro do Centro Cultural Dragão do Mar (cujo apoio “O Grupo” não se cansa de agradecer), reuniram ao todo um público de aproximadamente 550 pessoas, de idades e classes sociais bem diversificadas, sendo que a 1ª sessão (sábado à noite) superlotou e um número não pequeno de interessados ficou sem ver o filme. Significativa foi a presença da juventude de vários bairros da cidade. O debate que se seguiu às duas sessões criou oportunidade para testemunhos pessoais fortes e, aqui e acolá, comoventes; o professor de História da UFC, Dr. Régis Lopes, soube contextualizar a figura de Dom Helder sem abafar as participações da platéia. A ele, nossa gratidão!
• Durante o ciclo de conferências no auditório do Colégio Santo Tomás de Aquino (igualmente merecedor dos nossos mais profundos agradecimentos), registrou-se nas três noites, em média, uma platéia de 275 pessoas! A participação da juventude neste ambiente mais reflexivo, porém, foi escassa. As bolsas e camisas comemorativas, colocadas à venda por “O Grupo”, encontraram grande saída, de forma que sobraram poucas. Só na última noite, 85 exemplares do livro polêmico de Dom Clemente Isnard (“A Experiência ensina o Bispo”) foram vendidos. O jornalista cearense Luís Carlos Fonteles, da Rádio Senado de Brasília, veio especialmente a Fortaleza para disponibilizar, aos participantes do evento, 60 cópias de um documentário radiofônico produzido recentemente por ele, intitulado “Um homem chamado Helder”. O CD pode ser adquirido, gratuitamente, através de “O GRUPO”. Valeu, Luís Carlos! Percebemos a mão de Deus (e de dom Helder, claro...) em tudo isso...
• Entre 120 e 140 pessoas acompanharam em plena tarde de sexta-feira a Caminhada “Ai de mim se eu me calar”, pelas ruas do centro comercial de Fortaleza, cantando hinos em homenagem a cristãos (e até a não-cristãos como o “Betinho”!) que exerceram um papel profético na sociedade brasileira. Um texto profético forte (“Oração a Mariama”) de dom Helder Camara foi declamado frente à catedral metropolitana, chamando a igreja local para um engajamento maior e mais contundente nos conflitos sociais de nossa cidade. Ponto alto foi a proclamação, no final do percurso, de um “Pacto da Praça dos Mártires”, assumido pelos manifestantes, em analogia ao “Pacto das Catacumbas” no qual, em 16 de novembro de 1965, 40 bispos de vários continentes e países se comprometeram, na catacumba de Santa Domitila em Roma, a fazer da libertação dos pobres e oprimidos a causa principal do seu ministério.
• Digna de registro foi a presença – sempre discreta, porém firme e solidária – de Dom Edmilson Cruz durante as conferências noturnas. Justamente por ter sido a única autoridade eclesiástica a prestigiar o evento (não que os outros bispos não tenham sido convidados, nominalmente e por escrito...!), a ele um especial abraço fraterno!
• Agradecemos ainda o apoio valioso recebido da livraria católica Paulus, fiel companheira neste tipo de promoção, e da Rádio Dom Bosco que caprichou na divulgação da Semana. Finalmente: O porte magnífico do evento não teria sido possível sem o generoso patrocínio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) – o que só prova, mais uma vez, que há um amplo reconhecimento dos méritos de Dom Helder em meio à sociedade civil, enquanto no interior das igrejas cristãs os “referenciais” já são outros... Portanto, “O Grupo” aplaude de pé a sensibilidade social e cultural do comitê do BNB que foi responsável pelo patrocino!
• Único jornal impresso de grande circulação que veiculou, através de quatro matérias diferentes (entre elas um editorial), notícias acerca da Semana foi “O POVO”. Conseguir uma entrevista, em suas cobiçadas “Páginas Azuis”, com o bispo emérito de Nova Friburgo (RJ), Dom Clemente Isnard, mostrou-se um sonho irrealizável, dada a impossibilidade do nonagenário de deixar o hospital em Recife, onde se encontrava internado.
Um belo trabalho de divulgação foi levado a acabo pela Agência de Notícias Esperança (ANOTE), sobretudo através da criação do blog. Pela ADITAL e – pasmem! – pelo site da Rádio Vaticano que por duas vezes publicou a agenda da Semana! Também o boletim da Arquidiocese incluiu o evento em suas comunicações. A todos e todas que contribuíram para o êxito desta “semana do barulho” estendemos o nosso abraço fraterno e “arrochado”!
Agora: Que lições tirar disso tudo? Quais as pistas para um trabalho continuado de conscientização no futuro próximo? – Voltaremos em breve à carga para tratar destas questões ...
To be continued...
Carlo Tursi, teólogo e membro de “O GRUPO”
“Salve, Ivone, salve(-nos)!”
Soneto comemorativo de sua passagem por Fortaleza por ocasião da Semana “Dom Helder Camara” e do 1º Seminário de Teologia Feminista /2009
Foi graça de dom Helder ter chegado a Fortaleza mulher que abrilhantou do centenário a Semana. Da liberdade de pensar, da fé e da firmeza sublime testemunho deu esta pernambucana! Um feminismo bem cristão iluminou a noite em que se abrigam há séculos os guardiões do Templo... Que freira mais danada: ela aplica o açoite no lombo dos machistas...foi Jesus que deu o exemplo!
Como um vendaval passou por nós a profetisa ! Mas, ninguém a viu gritar ou pôr o dedo em riste... Séria, até serena quando julga e analisa, forte e apaixonada quando exige e insiste! Qual abalo sísmico ecoa sua tese: “Tradições de homens só não valem mais a pena!” Repensar o dogma, refazer a catequese, dando voz e vez ao Feminino na arena!
Eis alguém que revigora nossa teologia já cansada, estéril, vinculada a conceitos que por patriarcas, pais e padres foram feitos.
Finalmente alguém na Igreja que não só copia frases de encíclicas, que com coragem rara enfrenta a “Pirâmide”: Ivone “Che” Gebara!
Salve, Ivone, salve!
Fortaleza, 06 de outubro de 2009 Carlo Tursi, teólogo e membro de “O Grupo”
terça-feira, 6 de outubro de 2009
OS DEZ MANDAMENTOS
Os 10 “Mandamentos” da Indiferença e da Hipocrisia
I. Não guardarás, por muito tempo, a memória perigosa de mártires e perseguidos por causa da justiça: pois, o momento deles passou (graças a Deus!) e hoje já não temos mais necessidade de heróis!
II. Colocarás, no entanto, por ocasião de um aniversário de morte de um profeta ou mártir, flores no seu túmulo, acenderás uma vela diante de sua imagem e participarás de uma sessão solene em homenagem dele ou dela. Manterás a aparência, aconteça o que acontecer...
III. Não ti permitirás pensar muito na situação dos sofredores deste mundo, pois tal pensamento iria te deprimir e te impedir de pensar nas coisas boas da vida. “Alegrai-vos!” recomenda, aliás, a Sagrada Escritura...
IV. Evitarás lugares tristes e perigosos como favelas, hospitais, penitenciárias e manifestações de movimentos populares, pois a primeira máxima, para ti, há de ser: “Preserva-te a ti mesmo!”
V. Desconfiarás de todos e todas que criticam o sistema e questionam acerca das causas da pobreza, pois ainda existem muitos comunistas disfarçados e revoltados por aí que não reconhecem que “nosso Deus é um Deus da ordem e não da desordem”.
VI. Não emprestarás teu ouvido a quem ti falar de “opção pelos pobres”, pois Deus não conhece preferência e ama a todos igualmente.
VII. Não se afligirá teu coração diante do choro de uma criança faminta e maltratada, do adolescente precocemente vitimado pela droga ou do presídio superlotado em rebelião, pois o mundo sempre foi assim: “não há nada de novo debaixo do sol!” Consolar-te-ás sabendo que a figura deste mundo passará; até lá, te exercitarás na confiante espera do Senhor.
VIII. Permanecerás, o maior tempo possível, no recinto sagrado, pois o mundo lá fora já se esqueceu de Deus e está sofrendo o seu merecido castigo. Tu, porém, te abrigarás à sombra do altar.
IX. Não deixarás de levar tua oferta generosa ao altar do Senhor, para que não venham a lhe faltar as bênçãos e graças do Altíssimo. Lembrar-te-ás que Deus ama especialmente os dizimistas...
X. Não perderás nenhum show do seu padre-cantor favorito, pois é naqueles momentos que teu coração se aquece e exulta, e todos os problemas da vida desaparecem como em um ato mágico. Prostrar-te-ás diante dos cantores religiosos como sendo os novos profetas de Deus, enviados para o nosso tempo.
Carlo Tursi, teólogo, membro de “O GRUPO” e da Coordenação Arquidiocesana das CEBs
I. Não guardarás, por muito tempo, a memória perigosa de mártires e perseguidos por causa da justiça: pois, o momento deles passou (graças a Deus!) e hoje já não temos mais necessidade de heróis!
II. Colocarás, no entanto, por ocasião de um aniversário de morte de um profeta ou mártir, flores no seu túmulo, acenderás uma vela diante de sua imagem e participarás de uma sessão solene em homenagem dele ou dela. Manterás a aparência, aconteça o que acontecer...
III. Não ti permitirás pensar muito na situação dos sofredores deste mundo, pois tal pensamento iria te deprimir e te impedir de pensar nas coisas boas da vida. “Alegrai-vos!” recomenda, aliás, a Sagrada Escritura...
IV. Evitarás lugares tristes e perigosos como favelas, hospitais, penitenciárias e manifestações de movimentos populares, pois a primeira máxima, para ti, há de ser: “Preserva-te a ti mesmo!”
V. Desconfiarás de todos e todas que criticam o sistema e questionam acerca das causas da pobreza, pois ainda existem muitos comunistas disfarçados e revoltados por aí que não reconhecem que “nosso Deus é um Deus da ordem e não da desordem”.
VI. Não emprestarás teu ouvido a quem ti falar de “opção pelos pobres”, pois Deus não conhece preferência e ama a todos igualmente.
VII. Não se afligirá teu coração diante do choro de uma criança faminta e maltratada, do adolescente precocemente vitimado pela droga ou do presídio superlotado em rebelião, pois o mundo sempre foi assim: “não há nada de novo debaixo do sol!” Consolar-te-ás sabendo que a figura deste mundo passará; até lá, te exercitarás na confiante espera do Senhor.
VIII. Permanecerás, o maior tempo possível, no recinto sagrado, pois o mundo lá fora já se esqueceu de Deus e está sofrendo o seu merecido castigo. Tu, porém, te abrigarás à sombra do altar.
IX. Não deixarás de levar tua oferta generosa ao altar do Senhor, para que não venham a lhe faltar as bênçãos e graças do Altíssimo. Lembrar-te-ás que Deus ama especialmente os dizimistas...
X. Não perderás nenhum show do seu padre-cantor favorito, pois é naqueles momentos que teu coração se aquece e exulta, e todos os problemas da vida desaparecem como em um ato mágico. Prostrar-te-ás diante dos cantores religiosos como sendo os novos profetas de Deus, enviados para o nosso tempo.
Carlo Tursi, teólogo, membro de “O GRUPO” e da Coordenação Arquidiocesana das CEBs
sábado, 3 de outubro de 2009
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Caminhada “A i d e m i m s e e u m e c a l a r !”
Caminhada “A i d e m i m s e e u m e c a l a r !”
Sexta-feira, dia 02 de outubro, a partir das 15:00 h, na praça da Igreja do Carmo
O que se pretende:
Por ocasião do centenário de seu nascimento, conquistar visibilidade e atenção dos concidadãos fortalezenses para a figura cearense de Helder Camara e para o fato do descuido de sua memória e de seu legado em nossa cidade, por parte do poder público e da igreja local
Ultrapassar a forma convencional (e inócua) de homenagear grandes vultos que prima pela solenidade enfadonha e o panegírico tresloucado, através de um consistente trabalho temático, ao mesmo tempo educativo e provocador (para não apenas “colocar flores nos túmulos dos profetas”...)
Atrair, sobretudo, os mais jovens para uma ação pública comemorativa e profética que os faça conhecer e apreciar o significado humanista e cristão do testemunho de Helder Camara que denunciou ao mundo o regime ditatorial brasileiro e que, até hoje, foi o único brasileiro indicado (4x) ao prêmio Nobel da Paz
Questionar a atual indiferença, tanto do poder eclesiástico quanto do poder secular, diante do destino dos mais pobres da cidade
Colocar Helder Camara conscientemente em uma tradição maior de um cristianismo profético e militante por um mundo melhor, lembrando outras figuras (brasileiras) de semelhante nível de doação e compromisso
Colocar militantes e simpatizantes da causa dos marginalizados juntos em movimento, retomando a tradição das manifestações públicas, sem cair nos bordões já gastos de tempos idos
Criar um contraponto – do ponto de vista eclesial – para a superabundância sufocante das procissões meramente devocionais, cobrando mais engajamento cristão na transformação da realidade social gritante
Proporcionar prazer aos manifestantes, ao seguir rezando, cantando, clamando e refletindo pelas ruas do centro de nossa cidade, entrando em contato direto com os concidadãos
“Diga ao povo que se ponha em marcha!”
E agora, gente, vamos levantar nossas faixas, erguer bem alto as nossas fotos, vamos elevar nossas vozes, fazendo ouvir aos nossos irmãos fortalezenses um canto velho e novo, de denúncia e esperança, de indignação e solidariedade, um grito de protesto e um convite à Paz! Por Dom Helder! Por uma revolução dentro da Paz! Viva Dom Helder, o Dom da Paz
Sexta-feira, dia 02 de outubro, a partir das 15:00 h, na praça da Igreja do Carmo
O que se pretende:
Por ocasião do centenário de seu nascimento, conquistar visibilidade e atenção dos concidadãos fortalezenses para a figura cearense de Helder Camara e para o fato do descuido de sua memória e de seu legado em nossa cidade, por parte do poder público e da igreja local
Ultrapassar a forma convencional (e inócua) de homenagear grandes vultos que prima pela solenidade enfadonha e o panegírico tresloucado, através de um consistente trabalho temático, ao mesmo tempo educativo e provocador (para não apenas “colocar flores nos túmulos dos profetas”...)
Atrair, sobretudo, os mais jovens para uma ação pública comemorativa e profética que os faça conhecer e apreciar o significado humanista e cristão do testemunho de Helder Camara que denunciou ao mundo o regime ditatorial brasileiro e que, até hoje, foi o único brasileiro indicado (4x) ao prêmio Nobel da Paz
Questionar a atual indiferença, tanto do poder eclesiástico quanto do poder secular, diante do destino dos mais pobres da cidade
Colocar Helder Camara conscientemente em uma tradição maior de um cristianismo profético e militante por um mundo melhor, lembrando outras figuras (brasileiras) de semelhante nível de doação e compromisso
Colocar militantes e simpatizantes da causa dos marginalizados juntos em movimento, retomando a tradição das manifestações públicas, sem cair nos bordões já gastos de tempos idos
Criar um contraponto – do ponto de vista eclesial – para a superabundância sufocante das procissões meramente devocionais, cobrando mais engajamento cristão na transformação da realidade social gritante
Proporcionar prazer aos manifestantes, ao seguir rezando, cantando, clamando e refletindo pelas ruas do centro de nossa cidade, entrando em contato direto com os concidadãos
“Diga ao povo que se ponha em marcha!”
E agora, gente, vamos levantar nossas faixas, erguer bem alto as nossas fotos, vamos elevar nossas vozes, fazendo ouvir aos nossos irmãos fortalezenses um canto velho e novo, de denúncia e esperança, de indignação e solidariedade, um grito de protesto e um convite à Paz! Por Dom Helder! Por uma revolução dentro da Paz! Viva Dom Helder, o Dom da Paz
Artigo - por Carlo Tursi
Bispos para o mundo – 3ª Conferência na Semana Dom Helder Camara
A atual geração dos bispos católicos – com honrosas exceções, é claro! – sofre de uma doença chamada eclesiocentrismo. Não que seja doença rara – ela dominou, seguramente, a maior parte da história da Igreja. Os sintomas dela são: angústia causada pela evasão dos “fiéis”, fobia das outras religiões encaradas como “seitas sedutoras”, uma preocupação exagerada em manter a “platéia” entretida nos templos e nas associações católicas, uma mentalidade de “reconquista” das “ovelhas perdidas”, a promoção desproporcional da Pastoral do Dízimo, o cuidado exagerado com o patrimônio. Para os hierarcas acometidos por esta doença, “evangelizar” não significa tanto dar testemunho do amor gratuito de Deus e da esperança cristã em meio às realidades mais sofridas, desumanas, desesperançadas deste mundo (do tipo favelas, hospitais, prisões, submundo dos drogados); significa, antes, investir em programas televisivos e radiofônicos de entretenimento religioso para as próprias hostes. Tais programas não atraem, absolutamente, quem se afastou da Igreja, pois sua pieguice e seu jargão intra-eclesial quase hermético os tornam pouco suportáveis a pessoas secularizadas. Leigos e leigas que militam nas pastorais sociais e se esforçam para transformar a realidade “mundana” recebem pouquíssima atenção e quase nenhum incentivo de bispos eclesiocêntricos, ao passo que dizimistas, colaboradores litúrgicos e padres cantores são valorizados como a “menina dos olhos” da Igreja.
Houve um tempo, porém, em que os bispos quiseram “encostar” nas realidades mundanas e humanas. Quem ainda se lembra do célebre proêmio da “Gaudium et spes” ? “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração” (Compêndio do Vaticano II, 200). Surgia, então, o projeto de uma Igreja-companheira da humanidade, em seus caminhos e descaminhos, uma Igreja-aliada na luta por liberdade, felicidade e humanização plena. Recordemos o que escreveu o Pe. José Comblin no livro “Mantenham as lâmpadas acesas” sobre a geração de bispos do “tipo” Aloísio Lorscheider: “A América Latina recebeu de Deus um privilégio excepcional. Houve aqui uma geração de bispos, de quase todos os países, decididos a adaptar a América Latina às transformações sugeridas pelo Concílio Vaticano II. Foi a geração de Medellín. (...) Foi uma geração testemunha da liberdade evangélica, identificada com os pobres, os excluídos, os marginalizados da América Latina. Todos descobriram a mesma realidade, cada um no seu país, e quiseram aceitar o desafio dessa realidade. Foram como o Bom Samaritano da parábola. Vieram, depois de séculos em que a Igreja não quis olhar o desafio do extermínio dos índios, da escravidão dos africanos, e decidiram lutar contra essa realidade, procurando abrir os olhos da Igreja acostumada ao silêncio e à omissão seculares. Estes bispos sofreram repreensões e castigos das autoridades e resistência de muitos colegas. Alguns foram realmente perseguidos. Outros morreram assassinados, sem que o martírio fosse reconhecido. Muitas vezes se sentiam sozinhos, objetos de desconfiança, incompreendidos, mas permanecem na memória dos pobres. Dom Aloísio foi um deles” (pp.69-70).
E Dom Helder foi outro. Não se faz mais bispos como no tempo dele. A impressão que dá é que os prelados de mitra atuais olham para o mundo com desconfiança e profundo pessimismo, bradando contra a perda de valores, sobretudo da fidelidade matrimonial e da ”santa” obediência. Não conseguem dialogar, de igual para igual, com intelectuais e profissionais liberais, mas permanecem igualmente distantes dos movimentos populares e operários. Não estão atuando no meio dos ”afastados”, dos secularizados, dos abandonados, dos condenados, das “ovelhas sem pastor”. Parece até que têm medo deles... Ao invés disso, marcam presença constante na “Caminhada com Maria”, na procissão de São José, no “Queremos Deus” – aí, sim, se sentem “em casa”, em meio aos “seus”: “Vejam como eles se amam...!” Mas, se um outro mundo é possível, um outro episcopado também deve ser possível...
Para encerrar, três convites: 1) Não percam a conferência que acontecerá hoje, quinta-feira (01/10), às 19:00 h, no auditório do Colégio Santo Tomás de Aquino, com o título: “Dom Helder: bispo para a Igreja e bispo para o mundo”. O conhecido compositor litúrgico e padre casado Reginaldo Veloso será o expositor. Haverá o lançamento do polêmico livro de Dom Clemente Isnard: “A Experiência ensina o Bispo” – simplesmente imperdível! 2) Leiam o excelente livro “Bispos para a Esperança do Mundo: Uma leitura crítica sobre caminhos de Igreja” , de Márcio Fabri dos Anjos (Org.), das Edições Paulinas. 3) Rezem “para que o Senhor da colheita mande operários para a Sua messe” – o mundo agradece!
Carlo Tursi, teólogo e membro de “O GRUPO”
A atual geração dos bispos católicos – com honrosas exceções, é claro! – sofre de uma doença chamada eclesiocentrismo. Não que seja doença rara – ela dominou, seguramente, a maior parte da história da Igreja. Os sintomas dela são: angústia causada pela evasão dos “fiéis”, fobia das outras religiões encaradas como “seitas sedutoras”, uma preocupação exagerada em manter a “platéia” entretida nos templos e nas associações católicas, uma mentalidade de “reconquista” das “ovelhas perdidas”, a promoção desproporcional da Pastoral do Dízimo, o cuidado exagerado com o patrimônio. Para os hierarcas acometidos por esta doença, “evangelizar” não significa tanto dar testemunho do amor gratuito de Deus e da esperança cristã em meio às realidades mais sofridas, desumanas, desesperançadas deste mundo (do tipo favelas, hospitais, prisões, submundo dos drogados); significa, antes, investir em programas televisivos e radiofônicos de entretenimento religioso para as próprias hostes. Tais programas não atraem, absolutamente, quem se afastou da Igreja, pois sua pieguice e seu jargão intra-eclesial quase hermético os tornam pouco suportáveis a pessoas secularizadas. Leigos e leigas que militam nas pastorais sociais e se esforçam para transformar a realidade “mundana” recebem pouquíssima atenção e quase nenhum incentivo de bispos eclesiocêntricos, ao passo que dizimistas, colaboradores litúrgicos e padres cantores são valorizados como a “menina dos olhos” da Igreja.
Houve um tempo, porém, em que os bispos quiseram “encostar” nas realidades mundanas e humanas. Quem ainda se lembra do célebre proêmio da “Gaudium et spes” ? “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração” (Compêndio do Vaticano II, 200). Surgia, então, o projeto de uma Igreja-companheira da humanidade, em seus caminhos e descaminhos, uma Igreja-aliada na luta por liberdade, felicidade e humanização plena. Recordemos o que escreveu o Pe. José Comblin no livro “Mantenham as lâmpadas acesas” sobre a geração de bispos do “tipo” Aloísio Lorscheider: “A América Latina recebeu de Deus um privilégio excepcional. Houve aqui uma geração de bispos, de quase todos os países, decididos a adaptar a América Latina às transformações sugeridas pelo Concílio Vaticano II. Foi a geração de Medellín. (...) Foi uma geração testemunha da liberdade evangélica, identificada com os pobres, os excluídos, os marginalizados da América Latina. Todos descobriram a mesma realidade, cada um no seu país, e quiseram aceitar o desafio dessa realidade. Foram como o Bom Samaritano da parábola. Vieram, depois de séculos em que a Igreja não quis olhar o desafio do extermínio dos índios, da escravidão dos africanos, e decidiram lutar contra essa realidade, procurando abrir os olhos da Igreja acostumada ao silêncio e à omissão seculares. Estes bispos sofreram repreensões e castigos das autoridades e resistência de muitos colegas. Alguns foram realmente perseguidos. Outros morreram assassinados, sem que o martírio fosse reconhecido. Muitas vezes se sentiam sozinhos, objetos de desconfiança, incompreendidos, mas permanecem na memória dos pobres. Dom Aloísio foi um deles” (pp.69-70).
E Dom Helder foi outro. Não se faz mais bispos como no tempo dele. A impressão que dá é que os prelados de mitra atuais olham para o mundo com desconfiança e profundo pessimismo, bradando contra a perda de valores, sobretudo da fidelidade matrimonial e da ”santa” obediência. Não conseguem dialogar, de igual para igual, com intelectuais e profissionais liberais, mas permanecem igualmente distantes dos movimentos populares e operários. Não estão atuando no meio dos ”afastados”, dos secularizados, dos abandonados, dos condenados, das “ovelhas sem pastor”. Parece até que têm medo deles... Ao invés disso, marcam presença constante na “Caminhada com Maria”, na procissão de São José, no “Queremos Deus” – aí, sim, se sentem “em casa”, em meio aos “seus”: “Vejam como eles se amam...!” Mas, se um outro mundo é possível, um outro episcopado também deve ser possível...
Para encerrar, três convites: 1) Não percam a conferência que acontecerá hoje, quinta-feira (01/10), às 19:00 h, no auditório do Colégio Santo Tomás de Aquino, com o título: “Dom Helder: bispo para a Igreja e bispo para o mundo”. O conhecido compositor litúrgico e padre casado Reginaldo Veloso será o expositor. Haverá o lançamento do polêmico livro de Dom Clemente Isnard: “A Experiência ensina o Bispo” – simplesmente imperdível! 2) Leiam o excelente livro “Bispos para a Esperança do Mundo: Uma leitura crítica sobre caminhos de Igreja” , de Márcio Fabri dos Anjos (Org.), das Edições Paulinas. 3) Rezem “para que o Senhor da colheita mande operários para a Sua messe” – o mundo agradece!
Carlo Tursi, teólogo e membro de “O GRUPO”
A abertura - EXIBIÇÃO DO FILME
Sala lotada para ver o Filme, na abertura da Semana Dom Helder Câmara, no último sábado,dia 26. A procura foi tão grande que o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura resolveu colocar mais duas sessões neste mês de outubro. Viva!!!
Posteriormente, quando soubermos a data vamos postar no blog. Aguardem!
sábado, 26 de setembro de 2009
VÍDEO "Dom Helder: o profeta do século" NO YOUTUBE
"Dom Helder: o profeta do século" no youtube http://www.youtube.com/watch?v=rzdJvoThVRo
CONFIRA!
Prof. Luiz Sérgio, de Três Corações, em Minas Gerais, nos enviou uma notícia maravilhosa: a divulgação do vídeo "Dom Helder: o profeta do século" no Youtube.
Você também pode assistir! Basta copiar e colar a URL acima.
CONFIRA!
Prof. Luiz Sérgio, de Três Corações, em Minas Gerais, nos enviou uma notícia maravilhosa: a divulgação do vídeo "Dom Helder: o profeta do século" no Youtube.
Você também pode assistir! Basta copiar e colar a URL acima.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Amanhã, dia 26, começa a SEMANA DOM HELDER CÂMARA. NÃO PERCA!
TODOS ESTÃO CONVIDADOS!
A SEMANA DOM HELDER CÂMARA INCIA AMANHÃ, 26 DE SETEMBRO, EM FORTALEZA. PARTICIPE!
O evento será aberto com a exibição do filme "Dom Helder, o santo rebelde", no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura às 19h.(gratuito)
No domingo, às 10h o filme também será exibido, mas há cobrança de taxa de entrada. (Ver no site do Dragão do Mar).
Durante a Semana, acontece o Ciclo de Conferências!
TERÇA - dia 29/09
tema: Dom Helder e a espiritualidade do conflito. Conferencista: João Pubben, de Recife. (padre e amigo colaborador de Dom Helder)
QUARTA - dia 30/09
tema: A repressão ao pensamento teológico na Igreja de hoje. Conferencista: Ivone Gebara, de Camaragibe-PE (teóloga feminista e escritora)
QUINTA- dia 01/10
tema: Bispos para a Igreja ou bispos para o mundo? Conferencista: Reginaldo Veloso, de Recife (presbítero das CEB's, patoralista e compositor litúrgico)
Lançamento do livro "A Experiência ensina o Bispo", de autoria de Dom Clemente Isnard.
SEXTA- ENCERRAMENTO - dia 02/10
Caminhada "Ai de mim se eu me calar!"
Pelo centro comercial de Fortaleza até a antiga casa dos Câmara
Concentração a partir das 15h na Praça do Carmo
VIVA DOM HELDER!
A SEMANA DOM HELDER CÂMARA INCIA AMANHÃ, 26 DE SETEMBRO, EM FORTALEZA. PARTICIPE!
O evento será aberto com a exibição do filme "Dom Helder, o santo rebelde", no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura às 19h.(gratuito)
No domingo, às 10h o filme também será exibido, mas há cobrança de taxa de entrada. (Ver no site do Dragão do Mar).
Durante a Semana, acontece o Ciclo de Conferências!
TERÇA - dia 29/09
tema: Dom Helder e a espiritualidade do conflito. Conferencista: João Pubben, de Recife. (padre e amigo colaborador de Dom Helder)
QUARTA - dia 30/09
tema: A repressão ao pensamento teológico na Igreja de hoje. Conferencista: Ivone Gebara, de Camaragibe-PE (teóloga feminista e escritora)
QUINTA- dia 01/10
tema: Bispos para a Igreja ou bispos para o mundo? Conferencista: Reginaldo Veloso, de Recife (presbítero das CEB's, patoralista e compositor litúrgico)
Lançamento do livro "A Experiência ensina o Bispo", de autoria de Dom Clemente Isnard.
SEXTA- ENCERRAMENTO - dia 02/10
Caminhada "Ai de mim se eu me calar!"
Pelo centro comercial de Fortaleza até a antiga casa dos Câmara
Concentração a partir das 15h na Praça do Carmo
VIVA DOM HELDER!
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
DOCUMENTÁRIO SOBRE DOM HELDER - site da rádio Senado
Luís Carlos Fonteles
Rádio Senado
“UM HOMEM CHAMADO HÉLDER”
Dom Hélder Câmara completaria 100 anos em 2009. O padre cearense que viveu no Rio de Janeiro e, posteriormente, em Recife, aliou, como poucos, as ideias e a ação. Incompreendido por muitos, inclusive dentro da sua Igreja, provocou mudanças por onde passou. Dinamizou a Ação Católica, criou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, foi uma das figuras mais influentes do Concílio Vaticano II e realizou obras sociais polêmicas, como a Cruzada São Sebastião e o Banco da Providência. Também foi um dos maiores expoentes da Teologia da Libertação. O Dom, como era chamado, dedicou boa parte do seu tempo a criticar as estruturas injustas que criavam fossos entre ricos e pobres e os excessos do regime militar do Brasil nos anos 1960 e 1970. Suas viagens pelo mundo denunciando as torturas e as agressões aos direitos humanos no Brasil lhe renderam quatro indicações consecutivas ao Prêmio Nobel da Paz, que nunca lhe foi outorgado por razões políticas.
Para marcar o centenário dessa personalidade tão incomum, a Rádio Senado preparou o documentário “Um homem chamado Hélder”, que tem Luís Carlos Fonteles como realizador, Danuza di Carlantônio na produção e Carlos Quezado como engenheiro de áudio. Usando a técnica do feature radiofônico, o programa mistura realidade e ficção, para conduzir o ouvinte por uma viagem sonora pelos principais fatos da vida de Dom Hélder.
Dentre as personalidades que deram depoimentos ao documentário, estão Marina Bandeira, Padre José Comblin, Lúcia Moreira, Dom Eugênio Salles, Dom José Freire Falcão, Padre Marcelo Barros, Padre Reginaldo Veloso, Cândido Mendes, Padre Edilberto Reis, Padre Raimundo Caramuru Barros, Rosemberg Cariry, Cristiano Câmara, Antônio Barbosa, Eneida Campos, Padre José Ernanne Pinheiro, Maria Luísa Amarante, Jarbas Passarinho, Márcio Porto, Irmã Catarina Damasceno, Zezita Cavalcanti, Gilberto Paixão, Rosa Calixto, além dos senadores José Nery, Inácio Arruda, Francisco Dornelles e Jarbas Vasconcelos.
O documentário “Um homem chamado Hélder” está disponível para escuta e download no seguinte endereço na internet: http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/161147
Rádio Senado
“UM HOMEM CHAMADO HÉLDER”
Dom Hélder Câmara completaria 100 anos em 2009. O padre cearense que viveu no Rio de Janeiro e, posteriormente, em Recife, aliou, como poucos, as ideias e a ação. Incompreendido por muitos, inclusive dentro da sua Igreja, provocou mudanças por onde passou. Dinamizou a Ação Católica, criou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, foi uma das figuras mais influentes do Concílio Vaticano II e realizou obras sociais polêmicas, como a Cruzada São Sebastião e o Banco da Providência. Também foi um dos maiores expoentes da Teologia da Libertação. O Dom, como era chamado, dedicou boa parte do seu tempo a criticar as estruturas injustas que criavam fossos entre ricos e pobres e os excessos do regime militar do Brasil nos anos 1960 e 1970. Suas viagens pelo mundo denunciando as torturas e as agressões aos direitos humanos no Brasil lhe renderam quatro indicações consecutivas ao Prêmio Nobel da Paz, que nunca lhe foi outorgado por razões políticas.
Para marcar o centenário dessa personalidade tão incomum, a Rádio Senado preparou o documentário “Um homem chamado Hélder”, que tem Luís Carlos Fonteles como realizador, Danuza di Carlantônio na produção e Carlos Quezado como engenheiro de áudio. Usando a técnica do feature radiofônico, o programa mistura realidade e ficção, para conduzir o ouvinte por uma viagem sonora pelos principais fatos da vida de Dom Hélder.
Dentre as personalidades que deram depoimentos ao documentário, estão Marina Bandeira, Padre José Comblin, Lúcia Moreira, Dom Eugênio Salles, Dom José Freire Falcão, Padre Marcelo Barros, Padre Reginaldo Veloso, Cândido Mendes, Padre Edilberto Reis, Padre Raimundo Caramuru Barros, Rosemberg Cariry, Cristiano Câmara, Antônio Barbosa, Eneida Campos, Padre José Ernanne Pinheiro, Maria Luísa Amarante, Jarbas Passarinho, Márcio Porto, Irmã Catarina Damasceno, Zezita Cavalcanti, Gilberto Paixão, Rosa Calixto, além dos senadores José Nery, Inácio Arruda, Francisco Dornelles e Jarbas Vasconcelos.
O documentário “Um homem chamado Hélder” está disponível para escuta e download no seguinte endereço na internet: http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/161147
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
DOM HELDER CAMARA: “SINFONIA DOS DOIS MUNDOS” - por Geraldo Frencken
Dom Helder, na sua constante preocupação com a grande problemática da miséria que assola mundo, nos deixou um belo texto titulado de “Sinfonia dos dois mundos”. Esta obra literária foi musicada pelo compositor suíço Pierre Kaelin.
“Quem vai ganhar, homem, meu irmão, o mundo do bem ou o mundo do mal?”
Esta é a pergunta instigante que Dom Helder nos faz neste seu texto tão expressivo e questionador, embora escrita antes da virada do século, mas ainda atual para os nossos dias e para a realidade na qual estamos inseridos.
Porém, atenção! Não foi Dom Helder o primeiro a colocar-nos diante desta terrível questão.
Encontramos a mesma temática nas primeiras páginas do Antigo Testamento, onde vemos os textos conflitantes entre, de um lado, os capítulos 3, 4 etc., apresentando todas as formas do mal que vivemos e, do outro lado, os primeiros dois capítulos que apresentam a proposta do Paraíso. Interessante é observar que muitas outras culturas, tanto ocidentais, como orientais, se interrogam em seus mitos da criação a respeito das mesmas questões:
qual a origem do bem e do mal?
como podem co-existir o bem e o mal?
sobre quem cai a responsabilidade pelo bem?
sobre quem cai a responsabilidade pelo mal?
No primeiro momento da obra, Dom Helder louva e agradece a Deus “pela audácia de ser Criador”. Em seguida, coloca o homem no centro da criação, nascendo o próprio Deus feito homem dentro do universo criado por Deus. Mas, logo em seguida, o Dom nos questiona: “O balanço que podemos fazer do mundo, 2000 anos após o nascimento de Jesus, é terrível!”.
Tendo colocado a problemática, o Profeta Helder interroga toda a humanidade, a fim de que esta se conscientize sobre a sua responsabilidade, devendo, porém deixar guiar-se pelo “espírito que sopra” e que faz com que “os fracos descubram que eles se tornam fortes e invencíveis na medida em que se unem!” No mesmo momento, contrário a este espírito do bem reina um terrível “espiral de violência”, gerando o mal pelo mundo afora.
Na última parte da obra, o pastor Helder nos alerta para que tenhamos sempre esperança, pois “mais negra a noite, mais bela é a Aurora, porque o Espírito sopra no meio da noite!”
O questionamento de Dom Helder nos atinge a nós todos. Ninguém pode dizer: “Isso não é comigo!” Como verdadeiro Profeta, o Dom da Paz não se dirige a nós com perguntas teóricas, mas nos coloca diante de questões reais que precisam de respostas adequadas, relevantes e urgentes, a fim de que acordemos e não sejamos cristãos apenas esquentando os bancos das nossas igrejas.
Ainda bem que Helder nos chama de “homem, meu irmão”, porque se não fossemos irmãos e irmãs, tudo já estaria perdido!
Na segunda-feira próxima, dia 28, no Seminário da Prainha (sala 20), às 18:30h, podemos conhecer de perto a “Sinfonia dos dois mundos” de Dom Helder Camara.
Geraldo Frencken (membro de “O GRUPO”)
“Quem vai ganhar, homem, meu irmão, o mundo do bem ou o mundo do mal?”
Esta é a pergunta instigante que Dom Helder nos faz neste seu texto tão expressivo e questionador, embora escrita antes da virada do século, mas ainda atual para os nossos dias e para a realidade na qual estamos inseridos.
Porém, atenção! Não foi Dom Helder o primeiro a colocar-nos diante desta terrível questão.
Encontramos a mesma temática nas primeiras páginas do Antigo Testamento, onde vemos os textos conflitantes entre, de um lado, os capítulos 3, 4 etc., apresentando todas as formas do mal que vivemos e, do outro lado, os primeiros dois capítulos que apresentam a proposta do Paraíso. Interessante é observar que muitas outras culturas, tanto ocidentais, como orientais, se interrogam em seus mitos da criação a respeito das mesmas questões:
qual a origem do bem e do mal?
como podem co-existir o bem e o mal?
sobre quem cai a responsabilidade pelo bem?
sobre quem cai a responsabilidade pelo mal?
No primeiro momento da obra, Dom Helder louva e agradece a Deus “pela audácia de ser Criador”. Em seguida, coloca o homem no centro da criação, nascendo o próprio Deus feito homem dentro do universo criado por Deus. Mas, logo em seguida, o Dom nos questiona: “O balanço que podemos fazer do mundo, 2000 anos após o nascimento de Jesus, é terrível!”.
Tendo colocado a problemática, o Profeta Helder interroga toda a humanidade, a fim de que esta se conscientize sobre a sua responsabilidade, devendo, porém deixar guiar-se pelo “espírito que sopra” e que faz com que “os fracos descubram que eles se tornam fortes e invencíveis na medida em que se unem!” No mesmo momento, contrário a este espírito do bem reina um terrível “espiral de violência”, gerando o mal pelo mundo afora.
Na última parte da obra, o pastor Helder nos alerta para que tenhamos sempre esperança, pois “mais negra a noite, mais bela é a Aurora, porque o Espírito sopra no meio da noite!”
O questionamento de Dom Helder nos atinge a nós todos. Ninguém pode dizer: “Isso não é comigo!” Como verdadeiro Profeta, o Dom da Paz não se dirige a nós com perguntas teóricas, mas nos coloca diante de questões reais que precisam de respostas adequadas, relevantes e urgentes, a fim de que acordemos e não sejamos cristãos apenas esquentando os bancos das nossas igrejas.
Ainda bem que Helder nos chama de “homem, meu irmão”, porque se não fossemos irmãos e irmãs, tudo já estaria perdido!
Na segunda-feira próxima, dia 28, no Seminário da Prainha (sala 20), às 18:30h, podemos conhecer de perto a “Sinfonia dos dois mundos” de Dom Helder Camara.
Geraldo Frencken (membro de “O GRUPO”)
Dom Helder é também homenagiado no Piauí
Em Teresina-PI está sendo organizado pelo ICESPI (Instituto Católico de Estudos Superiores do Piauí) um evento abordando a temática Dom Helder Câmara. Na programação, uma exposição que já está acontecendo no Instituto (21-25/09/09) e uma conferência que será no dia 25/09/09 com o Arcebispo Emérito de Teresina Dom Celso José Pinto da Silva que conviveu com Dom Helder. A Conferência será no auditório da Faculdade.
O tema da Exposição (que é intinerante) e da Conferencia é "Dom Hélder: Sacerdote fiel, um profeta da paz". Além dos estudantes e professores da própria faculdade os eventos realizados são abertos à participação da sociedade. Durante a exposição há apresentação de alguns documentários e homilias de Dom Hélder.
*colaborador dessa informação: Ronald Ciríaco de Carvalho
O tema da Exposição (que é intinerante) e da Conferencia é "Dom Hélder: Sacerdote fiel, um profeta da paz". Além dos estudantes e professores da própria faculdade os eventos realizados são abertos à participação da sociedade. Durante a exposição há apresentação de alguns documentários e homilias de Dom Hélder.
*colaborador dessa informação: Ronald Ciríaco de Carvalho
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
ARTIGO - por Carlo Tursi
COMO HOMENAGEAR UM PROFETA?
Incomodado. Indignado. Até envergonhado. Talvez estas palavras exprimam um pouco como venho me sentindo ao longo deste ano em que estamos comemorando o centenário de nascimento de Dom Helder Camara (1909-2009). É que a forma convencional de nossas homenagens prestadas – até agora – não me parece fazer jus a este grande pastor e profeta fortalezense, que brilhou para o Brasil e o mundo como arcebispo de Olinda e Recife (1964-1985), promovendo os pobres e defendendo os perseguidos pela ditadura.
Por parte da Igreja, apenas o óbvio: celebra-se uma missa em sua homenagem – e fica-se com a sensação de “dever cumprido”. Durante a cerimônia (religiosa?), gasta-se mais tempo em saudar as autoridades políticas e eclesiásticas presentes do que em lembrar as corajosas e incômodas atitudes do ilustre homenageado. A presença da imprensa e das câmeras de televisão parece ser mais importante do que o comparecimento do povo de Deus, sobretudo dos segmentos mais pobres, preferidos de Dom Helder. Tudo acaba na inauguração de uma estátua de bronze, frente à igreja: um monumento à sua memória, sem dúvida, mas também uma forma sutil de “petrificar” esta memória, entregá-la à História, isto é, ao passado irrecuperável.
Por parte da sociedade civil e política, uma (ai que sono!) sessão solene na Assembléia Legislativa: panegíricos intermináveis de palavreado florido, porém, inexpressivo, antecedidos por dez minutos gastos em saudar os “componentes da Mesa” e as “autoridades” presentes... Aqui, o cume é atingido quando se propõe colocar o nome do homenageado em uma das praças da cidade. E volta-se, dever cumprido, à normalidade.
Confesso que, desde a juventude, fui “contaminado” pela acidez com que um certo mestre da Galiléia fustigava tais comportamentos oficiosos do establishment: “Hipócritas! Vocês constroem sepulcros para os profetas, e enfeitam os túmulos dos justos (...)! Vocês (...) são filhos daqueles que mataram os profetas!” (Mt 23,29-30). Aturdido, dou-me conta da terrível ambivalência das comemorações de um centenário: de certo, é ocasião oportuna para lembrar quem merece ser lembrado – mas, via de regra, na condição de alguém que pertence ao passado histórico! Fico a imaginar o alívio do episcopado brasileiro, hoje na ativa, de poder considerar bispos como Dom Helder uma “página virada”, pois as opções pastorais dele e seu estilo de vida austero se constituiriam um questionamento forte a toda pompa e à comodidade burguesa do alto clero católico (quem entre os atuais bispos iria morar, hoje, numa pequena sacristia de uma igreja, movido pelo pensamento de que o “pastor” deve partilhar a condição de vida de suas “ovelhas”?).
Vem aí uma outra forma de homenagear o “Dom da Paz”: a Semana Dom Helder Camara (26 de setembro a 02 de outubro), idealizada por um punhado de cristãos críticos que se autodenominam “O GRUPO”. Seu principal enunciado: Dom Helder vive! Lugar de lhe prestar homenagem não é, absolutamente, o cemitério, e o material adequado para isso não é o bronze, o gesso, nem as flores! O lugar correto de lhe prestar homenagem é no meio dos movimentos cristãos e cívico-humanistas que lutam pela transformação da realidade brasileira, que denunciam as torturas infligidas em nome da Lei e os crimes ecológicos, que não apenas dão pão aos pobres, mas que perguntam também pela causa da pobreza! E a forma correta de prestar esta homenagem é imbuir-nos, a nós mesmos, do mesmo espírito profético intrépido de Dom Helder, assumindo seu legado, sua herança. “Não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e de verdade!” (1 Jo 3,18). O material correto para celebrar a presença viva deste grande cearense em nosso meio é o material humano sensibilizado com a miséria e a violência institucionalizada a que estão expostos dezenas de milhares de concidadãos nesta capital! É este, fundamentalmente, o credo de “O GRUPO”: Cristo não pediu para ser adorado, mas para ser seguido! O mesmo vale, por extensão, para figuras exemplares como Helder Camara, Aloísio Lorscheider, Martin Luther King, Mahatma Gandhi, e todos os santos e santas a quem devemos nosso reconhecimento e nossa gratidão.
Alguém interessado neste tipo de homenagem? Então, há de conferir o evento de abertura da Semana, a se realizar no teatro do Centro Cultural Dragão do Mar, dia 26 de setembro, às 19:00 h, com a projeção do documentário “Dom Helder, o santo rebelde”, seguida de debate com a platéia. A Semana prosseguirá com um ciclo de conferências e debates, no colégio Santo Tomás de Aquino, sempre às 19:00 h, e culminará em uma caminhada de sensibilização e despertar cívico-cristão pelo centro de Fortaleza, no dia 02 de outubro, às 15:00 h, a partir da praça da Igreja do Carmo. “Ai de mim se eu me calar!” Não seria hora de sairmos da “toca”?
Carlo Tursi, teólogo
Incomodado. Indignado. Até envergonhado. Talvez estas palavras exprimam um pouco como venho me sentindo ao longo deste ano em que estamos comemorando o centenário de nascimento de Dom Helder Camara (1909-2009). É que a forma convencional de nossas homenagens prestadas – até agora – não me parece fazer jus a este grande pastor e profeta fortalezense, que brilhou para o Brasil e o mundo como arcebispo de Olinda e Recife (1964-1985), promovendo os pobres e defendendo os perseguidos pela ditadura.
Por parte da Igreja, apenas o óbvio: celebra-se uma missa em sua homenagem – e fica-se com a sensação de “dever cumprido”. Durante a cerimônia (religiosa?), gasta-se mais tempo em saudar as autoridades políticas e eclesiásticas presentes do que em lembrar as corajosas e incômodas atitudes do ilustre homenageado. A presença da imprensa e das câmeras de televisão parece ser mais importante do que o comparecimento do povo de Deus, sobretudo dos segmentos mais pobres, preferidos de Dom Helder. Tudo acaba na inauguração de uma estátua de bronze, frente à igreja: um monumento à sua memória, sem dúvida, mas também uma forma sutil de “petrificar” esta memória, entregá-la à História, isto é, ao passado irrecuperável.
Por parte da sociedade civil e política, uma (ai que sono!) sessão solene na Assembléia Legislativa: panegíricos intermináveis de palavreado florido, porém, inexpressivo, antecedidos por dez minutos gastos em saudar os “componentes da Mesa” e as “autoridades” presentes... Aqui, o cume é atingido quando se propõe colocar o nome do homenageado em uma das praças da cidade. E volta-se, dever cumprido, à normalidade.
Confesso que, desde a juventude, fui “contaminado” pela acidez com que um certo mestre da Galiléia fustigava tais comportamentos oficiosos do establishment: “Hipócritas! Vocês constroem sepulcros para os profetas, e enfeitam os túmulos dos justos (...)! Vocês (...) são filhos daqueles que mataram os profetas!” (Mt 23,29-30). Aturdido, dou-me conta da terrível ambivalência das comemorações de um centenário: de certo, é ocasião oportuna para lembrar quem merece ser lembrado – mas, via de regra, na condição de alguém que pertence ao passado histórico! Fico a imaginar o alívio do episcopado brasileiro, hoje na ativa, de poder considerar bispos como Dom Helder uma “página virada”, pois as opções pastorais dele e seu estilo de vida austero se constituiriam um questionamento forte a toda pompa e à comodidade burguesa do alto clero católico (quem entre os atuais bispos iria morar, hoje, numa pequena sacristia de uma igreja, movido pelo pensamento de que o “pastor” deve partilhar a condição de vida de suas “ovelhas”?).
Vem aí uma outra forma de homenagear o “Dom da Paz”: a Semana Dom Helder Camara (26 de setembro a 02 de outubro), idealizada por um punhado de cristãos críticos que se autodenominam “O GRUPO”. Seu principal enunciado: Dom Helder vive! Lugar de lhe prestar homenagem não é, absolutamente, o cemitério, e o material adequado para isso não é o bronze, o gesso, nem as flores! O lugar correto de lhe prestar homenagem é no meio dos movimentos cristãos e cívico-humanistas que lutam pela transformação da realidade brasileira, que denunciam as torturas infligidas em nome da Lei e os crimes ecológicos, que não apenas dão pão aos pobres, mas que perguntam também pela causa da pobreza! E a forma correta de prestar esta homenagem é imbuir-nos, a nós mesmos, do mesmo espírito profético intrépido de Dom Helder, assumindo seu legado, sua herança. “Não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e de verdade!” (1 Jo 3,18). O material correto para celebrar a presença viva deste grande cearense em nosso meio é o material humano sensibilizado com a miséria e a violência institucionalizada a que estão expostos dezenas de milhares de concidadãos nesta capital! É este, fundamentalmente, o credo de “O GRUPO”: Cristo não pediu para ser adorado, mas para ser seguido! O mesmo vale, por extensão, para figuras exemplares como Helder Camara, Aloísio Lorscheider, Martin Luther King, Mahatma Gandhi, e todos os santos e santas a quem devemos nosso reconhecimento e nossa gratidão.
Alguém interessado neste tipo de homenagem? Então, há de conferir o evento de abertura da Semana, a se realizar no teatro do Centro Cultural Dragão do Mar, dia 26 de setembro, às 19:00 h, com a projeção do documentário “Dom Helder, o santo rebelde”, seguida de debate com a platéia. A Semana prosseguirá com um ciclo de conferências e debates, no colégio Santo Tomás de Aquino, sempre às 19:00 h, e culminará em uma caminhada de sensibilização e despertar cívico-cristão pelo centro de Fortaleza, no dia 02 de outubro, às 15:00 h, a partir da praça da Igreja do Carmo. “Ai de mim se eu me calar!” Não seria hora de sairmos da “toca”?
Carlo Tursi, teólogo
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
LIVROS SOBRE DOM HELDER
Obras sobre Dom Hélder
Dom Hélder Camara-Coleção Vidas Luminosas, Alex Criado, Editora Salesiana, São Paulo, 2006
Os Caminhos de Dom Hélder - Perseguições e Censura, Marcos Cirano, Editora Guararapes, Recife, 1983.
O Monstro Sagrado e o Amarelinho Comunista, Assis Claudino, Editora Opção, Rio de Janeiro, 1985.
A Imprensa e o Arcebispo Vermelho, Sebastião Antônio Ferrarini, Edições Paulinas, São Paulo, 1992.
Dom Hélder Câmara: entre o poder e a profecia, Nelson Pileti e Walter Praxedes, Editora Ática, São Paulo, 1997.
Dom Hélder por Marcos de Castro, Edições Graal, Rio de Janeiro, 1978.
A Igreja e a Política no Brasil, Márcio Moreira Alves, Editora Brasiliense, São Paulo, 1979.
Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro - Pós-1930. Rio de Janeiro: FGV/Finep, 2001. 5 v. (Coordenadores: Alzira Alves de Abreu, Israel Beloch, Fernando Lattman-Weltman, Sérgio Tadeu N. Lamarão. V. 1, p. 958-963.
Dom Hélder Câmara, profeta para o nosso tempo, Marcelo Barros, Editora Rede da Paz, Goiás, 2006.
As noites de um profeta - Dom Hélder Câmara no Vaticano II, José de Broucker, Editora Paulus, São Paulo, 2008, ISBN 978-85-349-2912-7.
Dom Hélder Câmara: o profeta da paz, Walter Praxedes, Nelson Piletti. Editora Contexto, 2009, ISBN 978-85-7244-305-0.
DOM HELDER - BIBLIOGRAFIA
Obras de sua autoria
Indagações sobre uma vida melhor (Ed. Civilização Brasileira)
Um Olhar sobre a Cidade. 2a edição. São Paulo: Editora Paulus, 1997. ISBN 853490541X.
Revolução Dentro da Paz, Editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1968. Traduzido para o alemão, holandês, inglês, francês e italiano.
Terzo Mondo Defraudado, Editora Missionária Italiana, Milão, 1968.
Spirale de Violence, Ediciones Desclée de Brower, Paris, 1978. Traduzido para o português, espanhol, sueco, alemão, norueguês, holandês, chinês, italiano e inglês.
Pour Arriver à Temps, Ediciones Desclée de Brower, Paris, 1970. Traduzido para o espanhol, alemão, italiano, holandês, sueco, inglês e grego.
Le Désert est Fertile, Ed. Desclée de Brower, Paris, 1971. Traduzido para o português (1975), espanhol, italiano, holandês, inglês e coreano.
Pier Pour les Riches, Ed. Pendo-Verlag, Zurique, 1972.
Les Conversiones D'um Éveque, Ed. Seuil, Paris, 1977. Também em italiano, alemão e inglês.
Mil Razões para Viver, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1979. Traduzido para o francês e o alemão.
Renouveau dans l'Esprit et Service l'Homme, Ed. Lumem Vitae, Bruxelas, 1979. Traduzido para o italiano, português e inglês.
Nossa Senhora no Meu Caminho - Meditações do Padre José, Edições Paulinas, São Paulo, 1981.
Indagações sobre uma vida melhor, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1986.
Indagações sobre uma vida melhor (Ed. Civilização Brasileira)
Um Olhar sobre a Cidade. 2a edição. São Paulo: Editora Paulus, 1997. ISBN 853490541X.
Revolução Dentro da Paz, Editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1968. Traduzido para o alemão, holandês, inglês, francês e italiano.
Terzo Mondo Defraudado, Editora Missionária Italiana, Milão, 1968.
Spirale de Violence, Ediciones Desclée de Brower, Paris, 1978. Traduzido para o português, espanhol, sueco, alemão, norueguês, holandês, chinês, italiano e inglês.
Pour Arriver à Temps, Ediciones Desclée de Brower, Paris, 1970. Traduzido para o espanhol, alemão, italiano, holandês, sueco, inglês e grego.
Le Désert est Fertile, Ed. Desclée de Brower, Paris, 1971. Traduzido para o português (1975), espanhol, italiano, holandês, inglês e coreano.
Pier Pour les Riches, Ed. Pendo-Verlag, Zurique, 1972.
Les Conversiones D'um Éveque, Ed. Seuil, Paris, 1977. Também em italiano, alemão e inglês.
Mil Razões para Viver, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1979. Traduzido para o francês e o alemão.
Renouveau dans l'Esprit et Service l'Homme, Ed. Lumem Vitae, Bruxelas, 1979. Traduzido para o italiano, português e inglês.
Nossa Senhora no Meu Caminho - Meditações do Padre José, Edições Paulinas, São Paulo, 1981.
Indagações sobre uma vida melhor, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1986.
Site INTERESSANTE
O link abaixo é de um site que traz em seu conteúdo a vida e trajetória de Dom Helder.
Confira:
http://www.domhelder100anos.org.br
Confira:
http://www.domhelder100anos.org.br
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
PROJETO DOM HELDER CÂMARA - do Governo Federal
O Governo Federal, através do Ministério do Desenvolvimento Agrário, tem um projeto que objetiva fortalecer a Reforma Agrária e a Agricultura Familiar no semi-árido nordestino,e também investir na articulação e organização dos espaços de participação social.
ACESSE E CONHEÇA: http://www.projetodomhelder.gov.br/
O Projeto Dom Helder Camara é um acordo de empréstimo entre o Governo Brasileiro/Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrário/FIDA. É uma experiência exitosa, porque além de desenvolver ações estruturantes para fortalecer a Reforma Agrária e a Agricultura Familiar no semi-árido nordestino, investe efetivamente na articulação e organização dos espaços de participação social.
Neste sentido, os agricultores(as) familiares e os (as) assentados (as) da reforma agrária, através dos Comitês Territoriais e do Comitê Gestor, discutem suas necessidades, opinam sobre as possibilidades e definem ações prioritárias que possam alterar, significativamente, o rumo de suas vidas. As ações complementares de educação, saúde, capacitação, produção, comercialização, serviços financeiros, gênero e etnia, desenvolvidas pelo Projeto são fundamentais, pois os homens e mulheres do campo são profundos conhecedores dos problemas que lhes afetam secularmente.
O Projeto Dom Helder Camara investe, sobretudo, no Protagonismo por Excelência, o que significa construir e exercitar cidadania. A riqueza desse processo e suas conseqüências só o tempo poderá afirmar, porque as questões sociais não são matemáticas.
O compromisso do Projeto Dom Helder Camara é o de ensinar e de aprender, fazendo. Aprender a construir pluralidade na diversidade. Romper com a verticalização do planejamento e do monitoramento, estimulando a participação ativa, o trabalho com tranqüilidade e qualidade, investindo na complementaridade e no desenvolvimento da autonomia dos sujeitos.
Artigo - por Carlo Tursi
Teólogo/a - persona non grata ?
Conferência de Ivone Gebara na Semana Dom Helder Camara
A “maré” eclesial, definitivamente, não está para teólog@s – está mais para animadores de platéias, curandeiros, exorcistas, padres cantores e oradores em línguas. “Neste momento [...] estamos, teologicamente, como que parados, passando por uma espécie de desânimo. [...] Os nossos teólogos demonstram um pouco de medo” – palavras de Dom Aloísio Lorscheider (em: “Mantenham as lâmpadas acesas!”, Ed.UFC 2008, p.90). Ao recuo da razão teológica corresponde, no atual cenário eclesial, o avanço pujante de uma espiritualidade sentimentalista, devocional e intimista que se afasta de tudo que cheira a “crítica” como o “cão” se afasta da cruz. De fato, o esforço teológico por uma compreensão mais profunda e madura dos dados da fé revelada há de se desdobrar – inevitavelmente e desde os tempos remotos dos “santos padres” – em exercício da “crítica”, no sentido positivo de apontar contradições no pensar e incoerências no agir dos cristãos e tentar eliminá-las. Durante os últimos 100 anos de história da Igreja, a atitude do Magistério Eclesiástico para com a crítica teológica tem oscilado bastante: de um certo incentivo a novas investigações bíblico-teológicas sob o papa Leão XIII às duras condenações sob Pio X, de uma nova abertura durante o pontificado de Pio XI à onda de cassações com Pio XII, da reabilitação de muitos teólogos cassados por João XXIII e Paulo VI aos “silêncios obsequiosos” impostos na era de João Paulo II e do então cardeal Ratzinger. O atual “inverno da teologia” é, indubitavelmente, fruto das duras intervenções que a Cúria Romana tem perpetrado, ao longo das últimas duas décadas, em muitos institutos de formação teológica da América Latina, chegando a ordenar o fechamento de alguns deles, como foi o caso do ITER (1989), no Recife, a “menina dos olhos” de Dom Helder Camara. Quem o afirma – e lamenta – é, mais uma vez, o cardeal Lorscheider: “A própria teologia aqui na América Latina, ao invés de ser favorecida, foi um tanto calada. Por isso, hoje em dia, ninguém mais tem coragem de falar”. E arremata: “Esse medo faz mal. O Magistério não devia incutir esse medo!” (2008, p.91).
O porque desta hostilização da teologia? É que a leitura histórico-crítica da Sagrada Escritura e da História Eclesiástica teria trazido mais danos do que benefícios ao “povo de Deus”, semeando questionamentos e dúvidas em meio aos fiéis, provocando até crise de fé em não poucos. Reclamava, em 1990, o cardeal Ratzinger na “Instrução sobre a Vocação Eclesial do Teólogo”: “O teólogo, não esquecendo jamais que também ele é membro do povo de Deus, deve nutrir-lhe respeito, e esforçar-se por dispensar-lhe um ensinamento que não venha a lesar, de modo algum, a doutrina da fé” (nº11). A crítica teológica não teria sabido contentar-se com os campos da interpretação bíblica e histórica – teria “avançado o sinal” e começado a questionar as próprias definições, consagradas há séculos, da Teologia Dogmática, bem como a estrutura hierárquica da própria Igreja. Desconcertados e, talvez, até decepcionados com o intelectualismo e criticismo dos teólogos, muitos católicos a eles teriam dado as costas e se lançado em grupos de oração, seminários do Espírito Santo e procissões devocionais onde – supostamente – alimentariam melhor a sua espiritualidade, pensando menos e sentindo mais. Que o abandono da razão teológica, contudo, não pode ser uma saída aceitável provou, justamente, uma encíclica do papa João Paulo II, intitulada “Fides et ratio”, que insiste em uma necessária articulação e interdependência entre fé e razão...
A teóloga feminista Ivone Gebara, religiosa da Congregação das Cônegas de Santo Agostinho e doutora em Filosofia e Ciências da Religião, lecionou durante 17 anos no Instituto Teológico do Recife (ITER), até o seu fechamento por ordem de Roma. Experimentou dolorosamente, alguns anos depois, uma condenação ao silêncio obsequioso, tendo que se afastar, por um período de dois anos, da docência e da publicação de qualquer escrito seu. Após cumprir a penalidade imposta pelo Vaticano, veio a público com a obra “Rompendo o Silêncio” (Petrópolis 2000). É com muita propriedade, portanto, que ela proferirá conferência durante a SEMANA DOM HELDER CAMARA, na noite do dia 30 de setembro, às 19:00 h, no auditório do Colégio Santo Tomás de Aquino, com o tema “A repressão ao pensamento teológico na Igreja, hoje”. Quem viver, verá. Aquela noite promete...
Carlo Tursi, teólogo e membro de “O GRUPO”
Conferência de Ivone Gebara na Semana Dom Helder Camara
A “maré” eclesial, definitivamente, não está para teólog@s – está mais para animadores de platéias, curandeiros, exorcistas, padres cantores e oradores em línguas. “Neste momento [...] estamos, teologicamente, como que parados, passando por uma espécie de desânimo. [...] Os nossos teólogos demonstram um pouco de medo” – palavras de Dom Aloísio Lorscheider (em: “Mantenham as lâmpadas acesas!”, Ed.UFC 2008, p.90). Ao recuo da razão teológica corresponde, no atual cenário eclesial, o avanço pujante de uma espiritualidade sentimentalista, devocional e intimista que se afasta de tudo que cheira a “crítica” como o “cão” se afasta da cruz. De fato, o esforço teológico por uma compreensão mais profunda e madura dos dados da fé revelada há de se desdobrar – inevitavelmente e desde os tempos remotos dos “santos padres” – em exercício da “crítica”, no sentido positivo de apontar contradições no pensar e incoerências no agir dos cristãos e tentar eliminá-las. Durante os últimos 100 anos de história da Igreja, a atitude do Magistério Eclesiástico para com a crítica teológica tem oscilado bastante: de um certo incentivo a novas investigações bíblico-teológicas sob o papa Leão XIII às duras condenações sob Pio X, de uma nova abertura durante o pontificado de Pio XI à onda de cassações com Pio XII, da reabilitação de muitos teólogos cassados por João XXIII e Paulo VI aos “silêncios obsequiosos” impostos na era de João Paulo II e do então cardeal Ratzinger. O atual “inverno da teologia” é, indubitavelmente, fruto das duras intervenções que a Cúria Romana tem perpetrado, ao longo das últimas duas décadas, em muitos institutos de formação teológica da América Latina, chegando a ordenar o fechamento de alguns deles, como foi o caso do ITER (1989), no Recife, a “menina dos olhos” de Dom Helder Camara. Quem o afirma – e lamenta – é, mais uma vez, o cardeal Lorscheider: “A própria teologia aqui na América Latina, ao invés de ser favorecida, foi um tanto calada. Por isso, hoje em dia, ninguém mais tem coragem de falar”. E arremata: “Esse medo faz mal. O Magistério não devia incutir esse medo!” (2008, p.91).
O porque desta hostilização da teologia? É que a leitura histórico-crítica da Sagrada Escritura e da História Eclesiástica teria trazido mais danos do que benefícios ao “povo de Deus”, semeando questionamentos e dúvidas em meio aos fiéis, provocando até crise de fé em não poucos. Reclamava, em 1990, o cardeal Ratzinger na “Instrução sobre a Vocação Eclesial do Teólogo”: “O teólogo, não esquecendo jamais que também ele é membro do povo de Deus, deve nutrir-lhe respeito, e esforçar-se por dispensar-lhe um ensinamento que não venha a lesar, de modo algum, a doutrina da fé” (nº11). A crítica teológica não teria sabido contentar-se com os campos da interpretação bíblica e histórica – teria “avançado o sinal” e começado a questionar as próprias definições, consagradas há séculos, da Teologia Dogmática, bem como a estrutura hierárquica da própria Igreja. Desconcertados e, talvez, até decepcionados com o intelectualismo e criticismo dos teólogos, muitos católicos a eles teriam dado as costas e se lançado em grupos de oração, seminários do Espírito Santo e procissões devocionais onde – supostamente – alimentariam melhor a sua espiritualidade, pensando menos e sentindo mais. Que o abandono da razão teológica, contudo, não pode ser uma saída aceitável provou, justamente, uma encíclica do papa João Paulo II, intitulada “Fides et ratio”, que insiste em uma necessária articulação e interdependência entre fé e razão...
A teóloga feminista Ivone Gebara, religiosa da Congregação das Cônegas de Santo Agostinho e doutora em Filosofia e Ciências da Religião, lecionou durante 17 anos no Instituto Teológico do Recife (ITER), até o seu fechamento por ordem de Roma. Experimentou dolorosamente, alguns anos depois, uma condenação ao silêncio obsequioso, tendo que se afastar, por um período de dois anos, da docência e da publicação de qualquer escrito seu. Após cumprir a penalidade imposta pelo Vaticano, veio a público com a obra “Rompendo o Silêncio” (Petrópolis 2000). É com muita propriedade, portanto, que ela proferirá conferência durante a SEMANA DOM HELDER CAMARA, na noite do dia 30 de setembro, às 19:00 h, no auditório do Colégio Santo Tomás de Aquino, com o tema “A repressão ao pensamento teológico na Igreja, hoje”. Quem viver, verá. Aquela noite promete...
Carlo Tursi, teólogo e membro de “O GRUPO”
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Trailer - DOM HELDER CÂMARA - O SANTO REBELDE
Acesse esse endereço no YOUTUBE e confira o vídeo
do filme DOM HELDER CÂMARA - O SANTO REBELDE
http://www.youtube.com/watch?v=OMAx70ki66w
do filme DOM HELDER CÂMARA - O SANTO REBELDE
http://www.youtube.com/watch?v=OMAx70ki66w
ARTIGO - Por Geraldo Frencken
Lembrar-se de Dom Helder Camara sempre é um prazer. Helder Camara é filho de Fortaleza, cidade na qual nasceu em sete de fevereiro de 1909 e na qual, após estudos nos seminário da Prainha, se ordenou padre em quinze de agosto de 1931. No mesmo ano fundou a legião cearense do trabalho. Ele deixou a sua terra natal em 1936, indo ao Rio de janeiro, depois ao Recife e, em seguida, tornou-se o apóstolo Paulo do século XX, pregando a liberdade e dignidade humana em todo o mundo. Faremos, portanto, jus à história ao prestarmos homenagem a este fortalezense, Helder Camara, a fim de que sua voz ressoe para sempre em nossas mentes, seu modo de ser inspire nossas atitudes e seus gestos dêem rumo às nossas ações.
DOM HELDER, IRMÃO E PROFETA
Recife, 28 de agosto de 1999, 17.00 horas: uma multidão acompanha o carro dos bombeiros desde a Igreja das Fronteiras, cuja sacristia tinha servido durante quase trinta e dois anos como morada de Dom Helder Camara. Em cima do carro o caixão, e nele o corpo do Dom. Um percurso de uns sete, oito quilômetros. O povo cantando, rezando e dando adeus ao seu eterno pastor. O caixão desaparece debaixo das flores de todas as formas e todas as cores, “as rosas da minha vida”, como Dom Helder a elas se referia. Ao chegar à catedral de Olinda e Recife, em Olinda, a multidão aplaude ininterruptamente e, com horas de atraso, a Missa de corpo presente começa a ser celebrada. De repente, em meio às solenidades oficiais, uma pessoa se solta do meio da multidão e coloca a bandeira do MST sobre o caixão do Dom: um profundo silêncio, alguns olhares perturbados, o Núncio Apostólico, presidindo a cerimônia, pergunta a um dos padres concelebrantes: “Que bandeira é esta?!” ..... Mas ninguém ousa remover este símbolo pela justiça e paz duradoura na terra. Mais tarde, ao sepultar o corpo cansado do Dom, a bandeira permanece onde fora colocada, e pouco a pouco integrar-se-á à terra junto com aquele que dedicou a sua vida em defesa daqueles que não “possuem um palmo de terra para sobreviver”, como rezava em sua oração à Mariama na Missa dos Quilombos.
A bandeira do MST é vermelha. Mas Helder Câmara, padre recém-ordenado (15-08-1931) no seminário da Prainha, fundador da legião cearense do trabalho, não tinha vestido, debaixo de sua batina, a camisa verde dos adeptos ao integralismo que estava em moda naqueles dias? Que mudança! Ele mesmo, em uma de suas muitas poesias reflete sobre as guinadas que acontecem na vida da gente, dizendo:
“Aceita as surpresas que transformam teus planos, derrubam teus sonhos,
dão rumo totalmente diverso ao teu dia e, quem sabe, à tua vida.
Não há acaso.
Dá liberdade ao Pai, para que Ele mesmo conduza a trama dos teus dias ..”
É isso que Dom Helder fez em toda a sua vida: deixar-se moldar e modular por Deus. Que Deus? O Deus dos pequenos, dos pobres, dos maltrapilhos, dos sem terra, sem teto, sem roupa, sem participação no assim chamado progresso do mundo. É o Deus dos povos da América Latina, chamada por Dom Helder de “a vila cristã do mundo pobre”. Na sua “Sinfonia dos Dois Mundos”, ele analisa que a miséria é a violência n.° 1 deste mundo pobre, afirmando: “Miséria que engloba sub-habitação, sub-trabalho, sub-diversão, sub-saúde, sub-vida, opressão: são estas as formas de violência que geram todas as outras”.
Dom Helder via-se presente neste mundo. Era bispo da Igreja, mas era bispo para o mundo, tornando-se “sal da terra e luz do mundo” (cf. Mt 5, 13.14), como o Evangelho de Cristo manda ser todos os seus enviados. Por certo foi por isso que o nosso irmão, Padre Manfredo Araújo de Oliveira, disse, em 1999: “Dom Helder não cabe na Igreja!”
Ele, juntamente com o nosso querido e saudoso Dom Aloísio Lorscheider e tantos outros, era um dos arquitetos de uma Igreja presente no mundo a partir e no meio dos pobres. Teve participação nos grandes momentos da Igreja, como a fundação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em 1952, o Concílio Vaticano II nos anos sessenta, a Conferência do Episcopado Latino Americano em Medellín em 1968, colocando sempre como tema central o mundo dos pobres. Na vida destes, ele não queria ser somente mais um praticando a caridade, mas levava os próprios pobres a entenderem as causas da pobreza, da miséria, do descaso, apontando para as estruturas sociais, os mecanismos econômicos e a falta de compromissos políticos. Ele disse: “Homem, meu irmão, que fizeste dos pobres? Que fizeste da Ásia, da África, da América Latina da terra batida, da criança ensolarada?”. Foi por esta opção radical e irreversível em sua vida pessoal, nas suas palestras e discursos pelo mundo afora, que chegava a dizer, entre outros: “Se eu dou comida aos pobres, eles me chamam de santo. Se eu pergunto por que os pobres não têm comida, eles me chamam de comunista”, e, mais tarde, exclamou: “Dizem que é comunismo, mas é ..... é Evangelho, Mariama!”
Nada o Dom fazia sem consultar seu maior amigo: o próprio Cristo, com quem manteve longas conversas na madrugada de todos os dias, diante do altar de quem dançava, inspirado por quem escrevia seus discursos, suas poesias, suas cartas e no altar de quem derramava lágrimas todas as vezes quando celebrava o amor de Cristo vivido na celebração eucarística, isto é na partilha do pão, gesto este que continuará “mistério”, enquanto a humanidade toda não aprenda a partilhar seus dons espirituais e materiais.
Encontramos deste modo o profeta Helder.
Profeta é aquele que, na calada da noite, escuta seu Deus a fim de saber a quem se dirigir e o que falar, pois o profeta é aquele que empresta sua língua a Deus a fim de que Este fale.
O profeta é livre. Dom Helder, mesmo que vivesse, como nós, dentro das estruturas da sociedade e da igreja, as mesmas para ele não pareciam existir, embora, como testemunha um amigo confidente dele, “ele tenha sofrido um bocado por causa de um determinado funcionamento delas.” Um dia, Dom Jacques Gaillot, bispo de Partênia (Norte da África), amigo de Dom Helder, dizia: “Quando a gente tem medo não é livre, e quando é livre mete medo!” O Dom era livre, e aqueles que promoveram as injustiças e a opressão em nosso país, seja durante a ditadura como anterior e posterior a ela, exatamente por causa desta liberdade, o temiam, enquanto ele, Helder, não tinha o que temer!
O profeta testemunha! Dom Helder optou livremente por uma vida austera, simples, junto dos seus irmãos, os pobres, seguindo os exemplos de dois gigantes do amor aos pobres na história: São Francisco de Assis e São Vicente de Paulo. O testemunho do Dom da Paz brotava justamente do perfeito equilíbrio, que havia nele, entre contemplação e ação.
Hoje nós temos saudade de profetas como Dom Helder, Dom Aloísio, as vozes e os testemunhos do passado recente. Mas não é só saudade que sentimos. Somos convencidos também de que o mundo sempre necessita de profetas. Nós deles precisamos!
Que a sociedade e as igrejas permitam que haja sempre homens e mulheres que, livres, impedidos e com os pés no chão, na vida real, possam testemunhar o dom da “vida em abundância”, cantado por Padre Reginaldo Veloso de Recife, como “o sonho mais lindo de Deus”. Dom Helder realizou aquela parte deste sonho de Deus que lhe coube. A concretização da nossa parte do sonho de Deus será a nossa homenagem verdadeira a Dom Helder Câmara.
Dom Helder nos dignifica a todos, cearenses ou amantes desta terra. Neste sentido consideramos relevantes todas as ações que tornem viva a memória deste homem, junto ao povo fortalezense.
Geraldo Frencken (membro do "O Grupo")
DOM HELDER, IRMÃO E PROFETA
Recife, 28 de agosto de 1999, 17.00 horas: uma multidão acompanha o carro dos bombeiros desde a Igreja das Fronteiras, cuja sacristia tinha servido durante quase trinta e dois anos como morada de Dom Helder Camara. Em cima do carro o caixão, e nele o corpo do Dom. Um percurso de uns sete, oito quilômetros. O povo cantando, rezando e dando adeus ao seu eterno pastor. O caixão desaparece debaixo das flores de todas as formas e todas as cores, “as rosas da minha vida”, como Dom Helder a elas se referia. Ao chegar à catedral de Olinda e Recife, em Olinda, a multidão aplaude ininterruptamente e, com horas de atraso, a Missa de corpo presente começa a ser celebrada. De repente, em meio às solenidades oficiais, uma pessoa se solta do meio da multidão e coloca a bandeira do MST sobre o caixão do Dom: um profundo silêncio, alguns olhares perturbados, o Núncio Apostólico, presidindo a cerimônia, pergunta a um dos padres concelebrantes: “Que bandeira é esta?!” ..... Mas ninguém ousa remover este símbolo pela justiça e paz duradoura na terra. Mais tarde, ao sepultar o corpo cansado do Dom, a bandeira permanece onde fora colocada, e pouco a pouco integrar-se-á à terra junto com aquele que dedicou a sua vida em defesa daqueles que não “possuem um palmo de terra para sobreviver”, como rezava em sua oração à Mariama na Missa dos Quilombos.
A bandeira do MST é vermelha. Mas Helder Câmara, padre recém-ordenado (15-08-1931) no seminário da Prainha, fundador da legião cearense do trabalho, não tinha vestido, debaixo de sua batina, a camisa verde dos adeptos ao integralismo que estava em moda naqueles dias? Que mudança! Ele mesmo, em uma de suas muitas poesias reflete sobre as guinadas que acontecem na vida da gente, dizendo:
“Aceita as surpresas que transformam teus planos, derrubam teus sonhos,
dão rumo totalmente diverso ao teu dia e, quem sabe, à tua vida.
Não há acaso.
Dá liberdade ao Pai, para que Ele mesmo conduza a trama dos teus dias ..”
É isso que Dom Helder fez em toda a sua vida: deixar-se moldar e modular por Deus. Que Deus? O Deus dos pequenos, dos pobres, dos maltrapilhos, dos sem terra, sem teto, sem roupa, sem participação no assim chamado progresso do mundo. É o Deus dos povos da América Latina, chamada por Dom Helder de “a vila cristã do mundo pobre”. Na sua “Sinfonia dos Dois Mundos”, ele analisa que a miséria é a violência n.° 1 deste mundo pobre, afirmando: “Miséria que engloba sub-habitação, sub-trabalho, sub-diversão, sub-saúde, sub-vida, opressão: são estas as formas de violência que geram todas as outras”.
Dom Helder via-se presente neste mundo. Era bispo da Igreja, mas era bispo para o mundo, tornando-se “sal da terra e luz do mundo” (cf. Mt 5, 13.14), como o Evangelho de Cristo manda ser todos os seus enviados. Por certo foi por isso que o nosso irmão, Padre Manfredo Araújo de Oliveira, disse, em 1999: “Dom Helder não cabe na Igreja!”
Ele, juntamente com o nosso querido e saudoso Dom Aloísio Lorscheider e tantos outros, era um dos arquitetos de uma Igreja presente no mundo a partir e no meio dos pobres. Teve participação nos grandes momentos da Igreja, como a fundação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em 1952, o Concílio Vaticano II nos anos sessenta, a Conferência do Episcopado Latino Americano em Medellín em 1968, colocando sempre como tema central o mundo dos pobres. Na vida destes, ele não queria ser somente mais um praticando a caridade, mas levava os próprios pobres a entenderem as causas da pobreza, da miséria, do descaso, apontando para as estruturas sociais, os mecanismos econômicos e a falta de compromissos políticos. Ele disse: “Homem, meu irmão, que fizeste dos pobres? Que fizeste da Ásia, da África, da América Latina da terra batida, da criança ensolarada?”. Foi por esta opção radical e irreversível em sua vida pessoal, nas suas palestras e discursos pelo mundo afora, que chegava a dizer, entre outros: “Se eu dou comida aos pobres, eles me chamam de santo. Se eu pergunto por que os pobres não têm comida, eles me chamam de comunista”, e, mais tarde, exclamou: “Dizem que é comunismo, mas é ..... é Evangelho, Mariama!”
Nada o Dom fazia sem consultar seu maior amigo: o próprio Cristo, com quem manteve longas conversas na madrugada de todos os dias, diante do altar de quem dançava, inspirado por quem escrevia seus discursos, suas poesias, suas cartas e no altar de quem derramava lágrimas todas as vezes quando celebrava o amor de Cristo vivido na celebração eucarística, isto é na partilha do pão, gesto este que continuará “mistério”, enquanto a humanidade toda não aprenda a partilhar seus dons espirituais e materiais.
Encontramos deste modo o profeta Helder.
Profeta é aquele que, na calada da noite, escuta seu Deus a fim de saber a quem se dirigir e o que falar, pois o profeta é aquele que empresta sua língua a Deus a fim de que Este fale.
O profeta é livre. Dom Helder, mesmo que vivesse, como nós, dentro das estruturas da sociedade e da igreja, as mesmas para ele não pareciam existir, embora, como testemunha um amigo confidente dele, “ele tenha sofrido um bocado por causa de um determinado funcionamento delas.” Um dia, Dom Jacques Gaillot, bispo de Partênia (Norte da África), amigo de Dom Helder, dizia: “Quando a gente tem medo não é livre, e quando é livre mete medo!” O Dom era livre, e aqueles que promoveram as injustiças e a opressão em nosso país, seja durante a ditadura como anterior e posterior a ela, exatamente por causa desta liberdade, o temiam, enquanto ele, Helder, não tinha o que temer!
O profeta testemunha! Dom Helder optou livremente por uma vida austera, simples, junto dos seus irmãos, os pobres, seguindo os exemplos de dois gigantes do amor aos pobres na história: São Francisco de Assis e São Vicente de Paulo. O testemunho do Dom da Paz brotava justamente do perfeito equilíbrio, que havia nele, entre contemplação e ação.
Hoje nós temos saudade de profetas como Dom Helder, Dom Aloísio, as vozes e os testemunhos do passado recente. Mas não é só saudade que sentimos. Somos convencidos também de que o mundo sempre necessita de profetas. Nós deles precisamos!
Que a sociedade e as igrejas permitam que haja sempre homens e mulheres que, livres, impedidos e com os pés no chão, na vida real, possam testemunhar o dom da “vida em abundância”, cantado por Padre Reginaldo Veloso de Recife, como “o sonho mais lindo de Deus”. Dom Helder realizou aquela parte deste sonho de Deus que lhe coube. A concretização da nossa parte do sonho de Deus será a nossa homenagem verdadeira a Dom Helder Câmara.
Dom Helder nos dignifica a todos, cearenses ou amantes desta terra. Neste sentido consideramos relevantes todas as ações que tornem viva a memória deste homem, junto ao povo fortalezense.
Geraldo Frencken (membro do "O Grupo")
FRASES DE DOM HELDER
“A fome dos outros condena a civilização dos que não têm fome.”
“Pobreza ainda, miséria não!”
“Atenção, meus irmãos-homens! A violência n.° 1 é a miséria! Miséria que engloba sub-habitação, sub-trabalho, sub-diversão, sub-saúde, sub-vida, opressão, dominação.”
O grande embate dos nossos tempos é a miséria. E não se diga que ela é invencível.”
“A injustiça é indivisível: ataca-la e fazê-la recuar aqui e ali é sempre fazer avançar justiça.”
“O amor é o perfume das almas.”
“O sopro do amor fará aumentar o talento.”
“A lei consiste em amar a Deus e amar ao próximo. Ora, quem ama o próximo, já cumpriu a metade da lei.”
“É difícil dar. É necessário conquistar através do amor o direito de dar.”
“Se discordas de mim, tu me enriqueces.”
“Nós não queremos a paz dos pântanos, a paz enganadora que esconde injustiças e podridão.”
“Quanto mais negra é a noite, mais carrega em si a madrugada.”
“Quem me dera ser leal, discreto e silencioso como a minha sombra.”
“Os homens gastam-se tanto em palavras, que não podem entender o silêncio de Deus.”
“Quem dá aos pobres, empresta a Deus!”
“Na pobreza existe apenas o indispensável, mas existe. Na miséria, nem o indispensável existe.”
“Melhor do que o pão é a sua partilha, sua divisão.”
“É jovem quem tem uma razão para viver.”
“Se dou comida aos pobres, eles me chamam de santo. Se eu pergunto por que os pobres não têm comida, eles me chamam de comunista.”
“As pessoas te pesam? Não as carregue nos ombros. Leve-as no coração.”
“Que ventura ver rostos parados se iluminarem de inteligência, inteligências frias tocadas de imaginação, corações descrentes, desesperados se encherem de confiança e paz!”
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
ABERTURA DA SDHC
A abertura da Semana Dom Helder Câmara (SDHC) acontecerá no teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no dia 26 às 19h e dia 27 às 10h, onde será exibido o filme "Dom Helder, o santo rebelde". Na ocasião, haverá um debate com a presença de convidados especiais.
Na terça-feira, dia 29 inicia o Ciclo de Conferências, no Colégio Santo Tomás de Aquino - Rua Mário Mamede, 750 (atrás da Igreja de Fátima) às 19:00. Aberto ao publico!
Na terça-feira, dia 29 inicia o Ciclo de Conferências, no Colégio Santo Tomás de Aquino - Rua Mário Mamede, 750 (atrás da Igreja de Fátima) às 19:00. Aberto ao publico!
Site de Notícias - CURIOSIDADES
domingo, 13 de setembro de 2009
Artigo - por Carlo Tursi
“Não pensem que eu vim trazer paz à terra...!” (Mt 10,34)
Dom Helder Camara e a espiritualidade do conflito
Hoje, somos todos reféns daquilo que agrada às multidões. E nada agrada-lhes mais do que o discurso da “paz”. Parece que, depois de três décadas de lutas, manifestações, punhos erguidos, discursos inflamados e palavras de ordem gritadas, a “turma” se cansou e procura agora profetas e sacerdotes(-cantores?) de “fala mansa” que prometem bonança e serenidade, de preferência sem ninguém ter que suar a camisa. “Felizes os mansos” (Mt 5,5) e – sobretudo – os sorridentes, pois o grande público irá escutá-los. Toda palavra mais grossa, discussão mais acalorada, qualquer dissenso ou polêmica são ojerizados; preza-se viver em um ambiente harmônico, tranqüilo e isento de perturbações. Se existem conflitos – e não há como negar sua existência, nem na sociedade, nem na Igreja - , há de se silenciar acerca deles, pois viver um conflito, ainda mais às vistas do público, seria hoje desastroso para a imagem de qualquer instituição ou comunidade. E é assim que mantemos – nos lares, nas igrejas, nas repartições – a fachada da unidade-unanimidade e da paz, varrendo os grandes problemas e conflitos debaixo do famigerado “tapete”.
A uma espiritualidade cristã autêntica, porém, esta ânsia por “paz a qualquer preço” sempre pareceu hipócrita. Já a denunciava o profeta bíblico: “Do menor ao maior, são todos aproveitadores, do profeta ao sacerdote, todos enganadores. Sem responsabilidade querem curar a ferida do meu povo, dizendo apenas “Shalôm! Shalôm!”, quando paz não existe!” (Jr 6,13-14). E o próprio Cristo, anunciado como “manso e humilde de coração” na nossa atual mentalidade eclesial, foi, na realidade, um grande polemizador das causas justas, que discutiu com juristas canônicos e sacerdotes, chamando-os de hipócritas, guias cegos e sepulcros caiados (Mt 23). Jesus pegou pesado com ricos (“Ai de vós!”) e políticos (“Raposa”), mas também não costumava bajular as multidões que o escutavam (“geração má e adúltera!”). “ Não vim trazer a paz, mas a espada”, disse ele certa vez. Ou seja, veio para nos forçar a uma tomada de posição: ou a favor ou contra as prioridades do Reinado de Deus – e os seus preferidos.
Esta espiritualidade bíblico-evangélica só pode chocar a mentalidade cristã vigente. Repete-se, em todas as paróquias, o lema da Campanha da Fraternidade ad nauseam (“A paz é fruto da justiça”), mas não se encontra quem queira denunciar as tremendas injustiças e desigualdades que permeiam nosso convívio social brasileiro. Tomar partido ? É complicado...! Ninguém quer “pegar (no) pesado”, tudo deve ser “light” e facilmente digerível, senão os “fiéis” vão embora...
Dom Helder Camara, cujo centenário de nascimento (1909) comemoramos este ano, exercia-se na espiritualidade cristã autêntica e não fazia concessões ao “gosto” das multidões. No seu já célebre livro “ Revolução dentro da Paz” (RJ 1968), o pastor-profeta dizia: “Trata-se de convencer os senhores de hoje a completar a abolição da escravatura, contribuindo, de modo decisivo, não para um amplo movimento filantrópico e assistencialista, mas para um autêntico movimento de promoção humana” (p.79). Sabia da inocuidade de certos discursos eclesiásticos em favor da paz e da justiça, quando desacompanhados de ações concretas no terreno sócio-político: “Se não creio na violência armada, também não chego à ingenuidade de pensar que bastam conselhos fraternos, apelos líricos, para que tombem estruturas sócio-econômicas, como ruíram os muros de Jericó” (p.37).
É esta espiritualidade mais profunda de Dom Helder que não só sabe dar pão aos pobres, mas que pergunta pelas causas da pobreza e que, por conseqüência, aceita ser “perseguida por causa da justiça” (Mt 5,10) que “O GRUPO”, aqui em Fortaleza, está querendo relançar ao povo cristão, durante noite de conferência no Colégio Santo Tomás de Aquino, no decurso da SEMANA DOM HELDER CAMARA. A conferência, intitulada “Dom Helder e a espiritualidade do conflito”, será proferida por um padre e velho amigo do falecido Dom, João Pubben, no dia 29 de setembro, às 19:00 h, no auditório daquela instituição de ensino. Vamos conferir. Está na hora de avançar para águas mais profundas...
Carlo Tursi, membro de “O GRUPO”
no site da AnotE. Visite!
www.anote.org.br/novosite/manchete.asp?cod=283
Dom Helder Camara e a espiritualidade do conflito
Hoje, somos todos reféns daquilo que agrada às multidões. E nada agrada-lhes mais do que o discurso da “paz”. Parece que, depois de três décadas de lutas, manifestações, punhos erguidos, discursos inflamados e palavras de ordem gritadas, a “turma” se cansou e procura agora profetas e sacerdotes(-cantores?) de “fala mansa” que prometem bonança e serenidade, de preferência sem ninguém ter que suar a camisa. “Felizes os mansos” (Mt 5,5) e – sobretudo – os sorridentes, pois o grande público irá escutá-los. Toda palavra mais grossa, discussão mais acalorada, qualquer dissenso ou polêmica são ojerizados; preza-se viver em um ambiente harmônico, tranqüilo e isento de perturbações. Se existem conflitos – e não há como negar sua existência, nem na sociedade, nem na Igreja - , há de se silenciar acerca deles, pois viver um conflito, ainda mais às vistas do público, seria hoje desastroso para a imagem de qualquer instituição ou comunidade. E é assim que mantemos – nos lares, nas igrejas, nas repartições – a fachada da unidade-unanimidade e da paz, varrendo os grandes problemas e conflitos debaixo do famigerado “tapete”.
A uma espiritualidade cristã autêntica, porém, esta ânsia por “paz a qualquer preço” sempre pareceu hipócrita. Já a denunciava o profeta bíblico: “Do menor ao maior, são todos aproveitadores, do profeta ao sacerdote, todos enganadores. Sem responsabilidade querem curar a ferida do meu povo, dizendo apenas “Shalôm! Shalôm!”, quando paz não existe!” (Jr 6,13-14). E o próprio Cristo, anunciado como “manso e humilde de coração” na nossa atual mentalidade eclesial, foi, na realidade, um grande polemizador das causas justas, que discutiu com juristas canônicos e sacerdotes, chamando-os de hipócritas, guias cegos e sepulcros caiados (Mt 23). Jesus pegou pesado com ricos (“Ai de vós!”) e políticos (“Raposa”), mas também não costumava bajular as multidões que o escutavam (“geração má e adúltera!”). “ Não vim trazer a paz, mas a espada”, disse ele certa vez. Ou seja, veio para nos forçar a uma tomada de posição: ou a favor ou contra as prioridades do Reinado de Deus – e os seus preferidos.
Esta espiritualidade bíblico-evangélica só pode chocar a mentalidade cristã vigente. Repete-se, em todas as paróquias, o lema da Campanha da Fraternidade ad nauseam (“A paz é fruto da justiça”), mas não se encontra quem queira denunciar as tremendas injustiças e desigualdades que permeiam nosso convívio social brasileiro. Tomar partido ? É complicado...! Ninguém quer “pegar (no) pesado”, tudo deve ser “light” e facilmente digerível, senão os “fiéis” vão embora...
Dom Helder Camara, cujo centenário de nascimento (1909) comemoramos este ano, exercia-se na espiritualidade cristã autêntica e não fazia concessões ao “gosto” das multidões. No seu já célebre livro “ Revolução dentro da Paz” (RJ 1968), o pastor-profeta dizia: “Trata-se de convencer os senhores de hoje a completar a abolição da escravatura, contribuindo, de modo decisivo, não para um amplo movimento filantrópico e assistencialista, mas para um autêntico movimento de promoção humana” (p.79). Sabia da inocuidade de certos discursos eclesiásticos em favor da paz e da justiça, quando desacompanhados de ações concretas no terreno sócio-político: “Se não creio na violência armada, também não chego à ingenuidade de pensar que bastam conselhos fraternos, apelos líricos, para que tombem estruturas sócio-econômicas, como ruíram os muros de Jericó” (p.37).
É esta espiritualidade mais profunda de Dom Helder que não só sabe dar pão aos pobres, mas que pergunta pelas causas da pobreza e que, por conseqüência, aceita ser “perseguida por causa da justiça” (Mt 5,10) que “O GRUPO”, aqui em Fortaleza, está querendo relançar ao povo cristão, durante noite de conferência no Colégio Santo Tomás de Aquino, no decurso da SEMANA DOM HELDER CAMARA. A conferência, intitulada “Dom Helder e a espiritualidade do conflito”, será proferida por um padre e velho amigo do falecido Dom, João Pubben, no dia 29 de setembro, às 19:00 h, no auditório daquela instituição de ensino. Vamos conferir. Está na hora de avançar para águas mais profundas...
Carlo Tursi, membro de “O GRUPO”
no site da AnotE. Visite!
www.anote.org.br/novosite/manchete.asp?cod=283
CNBB
Era 1952 e dom Hélder Câmara vivia no Rio de Janeiro. Em abril desse ano, foi nomeado bispo auxiliar da cidade – para desenvolver o trabalho junto com o titular, dom Jaime de Barros Câmara. Outro acontecimento marcou o 1952 de dom Hélder: ele participou da fundação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Depois de várias reuniões episcopais para definir a base da entidade, a criação efetiva da CNBB se deu em 14 de outubro de 1952. Dom Hélder assumiu o cargo de secretário-geral e, colocando a mão na massa imediatamente, no dia seguinte desdobrou o secretariado em seis áreas de atuação: Ação Social, Apostolado Leigo, Educação, Ensino Religioso, Liga Eleitoral Católica e Seminários e Vocações Sacerdotais.
O objetivo da CNBB, para dom Hélder, era fazer o episcopado atuar de forma conjunta e articulada e renovar a relação entre a Igreja e as comunidades, levando os religiosos a promover atividades educativas e sociais onde houvesse necessidade. A luta pela justiça e pela cidadania, que até então era praticamente particular do religioso, ganha a dimensão de todo um país, com o surgimento da Conferência.
A entidade passou a trabalhar, não sem a resistência dos religiosos tradicionalistas, por uma ordem social mais justa. Isso só seria possível a partir de uma nova forma de atuação dos cristãos, com maior influência sobre a vida dos fiéis, dos leigos. A criação da CNBB só foi possível a partir do talento e da articulação de dom Hélder Câmara.
*TEXTO RETIRADO DO SITE: http://www.centenariodomhelder.com.br/vida-filosofia/cnbb
Ditadura
A DITADURA -
Por sua intensa atuação na luta pelos direitos humanos, pela justiça social e contra o autoritarismo, Dom Hélder Câmara entrou em choque com a ditadura militar.
Recém-empossado arcebispo de Olinda e Recife, divulgou um manifesto apoiando a ação católica operária na Capital pernambucana, sendo considerado comunista e virando persona non grata no governo.
Proibido de falar no Brasil, Dom Hélder começa a realizar conferências e pregações no exterior. O cerco do regime autoritário se fechou ainda mais quando, pela primeira vez, denunciou ao mundo a tortura a presos políticos no Brasil, num discurso em Paris, em 1970.
O religioso ficou então impedido de se expressar na mídia e teve até a citação do seu nome vetada nos meios de comunicação, no período de 1970 a 1977. Dom Hélder era impedido inclusive de responder acusações contra ele veiculadas pela imprensa.
Antes disso, na tentativa de calar o “arcebispo vermelho”, vários atentados foram cometidos. Em outubro de 1968, homens metralharam sua residência, na Igreja das Fronteiras, no bairro da Boa Vista. Dias depois, a casa de Dom Hélder voltou a ser alvo de tiros, desta vez de revólveres.
"Dom Hélder enfrentou generais presunçosos, vaidosos. E enfrentou com maneira muito firme um desses generais, que foi convidá-lo para celebrar uma missa de 31 de março. Ele, naturalmente, não aceitou. O general disse ‘eu não vim convidar, eu vim celebrar’. Ele levantou-se e disse: ‘senhor general, cresça e apareça. O senhor não me conhece’”, conta Padre Edvaldo, pároco de Casa Forte.
Mas o pior golpe contra o religioso veio no dia 27 de maio de 1969, quando o padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto, seu auxiliar na Arquidiocese, na área de assistência à juventude, foi encontrado morto, com indícios de tortura.
Padre Henrique por vezes encontrava-se com estudantes cassados e já havia recebido ameaças de morte por telefone, a maioria do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). O sacerdote foi amarrado, arrastado e recebeu três tiros na cabeça.
Na missa de corpo presente concelebrada na Matriz do Espinheiro, no dia 28, com a participação de 40 sacerdotes e centenas de jovens, Dom Hélder afirmou que eles não ficariam órfãos.
Cerca de 20 mil pessoas acompanharam, a pé, o caixão, no trajeto da Igreja até o cemitério da Várzea. O cortejo foi interceptado pela Polícia Militar, que recolheu as faixas denunciando o assassinato. No percurso, foram presos o deputado federal cassado Osvaldo Lima Filho e um soldado do Corpo de Bombeiros, amigo da família da vítima, que ajudava a levar o caixão.
Baseado no depoimento de uma testemunha, Rogério Matos do Nascimento, ex-estudante e sem profissão, foi denunciado pelo crime. Mas o caso nunca foi de fato esclarecido. E, até hoje, é atribuído às forças de repressão, numa clara tentativa de calar o “pregador da liberdade”.
Apesar de o governo ainda não ter oficializado a censura à imprensa nesta época – o que fez através de decreto-lei no início de 1970 - os jornais foram proibidos de noticiar o assassinato. No final deste ano, o governo determinou que todos os veículos de comunicação ficavam proibidos de sequer mencionar o nome de Dom Hélder.
“De ordem do Sr. Ministro da Justiça, ficam proibidas quaisquer manifestações, imprensa falada, escrita e televisada, contra ou a favor de Dom Hélder Câmara. Tal proibição é extensiva nos (sic) horários de televisão reservados à propaganda política.”
O silêncio imposto ao arcebispo durou sete anos, sendo rompido em julho de 1977, quando foi publicada, no Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), uma entrevista com Dom Hélder.
CONTRA-CAMPANHA
No ano de 1972, Dom Hélder Câmara teve o nome indicado ao Prêmio Nobel da Paz. O Governo Médici realizou então uma campanha contra a eleição do arcebispo, divulgando na Europa um dossiê que o acusava de ser comunista, impedindo a premiação.
Mas o reconhecimento ao trabalho humanitário do arcebispo veio através de vários outros prêmios. O primeiro título foi concedido em 1969, de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Saint Louis (EUA). O mesmo título foi recebido de várias outras universidades, em países como Bélgica, Suíça, Alemanha, Holanda, Itália, Canadá e Estados Unidos, além do Brasil.
Foi intitulado ainda Cidadão Honorário de 28 cidades brasileiras e da cidade de São Nicolau, na Suíça, e Rocamadour, na França.
Recebeu também o Prêmio Martin Luther King, nos EUA, e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega, além de muitas outras honrarias internacionais.
Vida e História
Filho da professora e diretora de escola pública Adelaide Rodrigues Pessoa Câmara e do guarda-livros, jornalista e crítico de teatro João Eduardo Torres Câmara Filho, Hélder Pessoa Câmara, 11º filho de uma família de 13 irmãos, nasceu em Fortaleza, no dia 7 de fevereiro de 1909.
Com 14 anos, entrou no Seminário da Prainha de São José, em Fortaleza, onde foi ordenado sacerdote aos 22 anos, após cursar filosofia e teologia. Foi preciso uma licença extraordinária da Santa Sé, pois ele não tinha ainda a idade mínima necessária para a ordenação, a de 24 anos.
Em 1934, foi nomeado diretor do Departamento de Educação do Estado do Ceará, cargo que ocupou por cinco anos. Ainda em 1931 aderiu ao Integralismo, que abandonou em 1936.
Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1936. Foi nomeado assistente técnico do Secretariado de Educação do Distrito Federal , destacando-se em atividades educacionais. Exerceu o cargo de diretor do Ensino Religioso e da Renovação Catequética do arcebispado, além de ser nomeado inspetor de ensino do Ministério da Educação. Tornou-se membro do Conselho Superior de Ensino.
Em 1946 recebeu o convite para assessorar o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara, se desligando do Ministério da Educação. Seis anos depois foi nomeado bispo-auxiliar. Fundou a Cruzada de São Sebastião e o Banco da Providência, entidades destinadas ao amparo dos mais pobres.
Em 1952, Dom Hélder Câmara fundou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da qual foi primeiro secretário-geral, durante 12 anos (1952-1964) e, depois, secretário de Ação Social (1964-1968).
Após exercer o cargo de delegado do Brasil na Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Celam), tornou-se seu vice-presidente, entre 1958-60 e em 1964.
Chegou a ser nomeado para o Maranhão, mas com a morte de Dom Carlos Gouveia Coelho, foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife, em 12 de março de 1964, pouco antes do golpe militar.
Recém-empossado, Dom Hélder divulga manifesto de apoio à ação católica operária no Recife. O novo governo acusa-o de comunista e o arcebispo fica proibido de se manifestar publicamente. A imprensa é proibida até de citar seu nome.
Passa a fazer conferências e pregações no exterior, desenvolvendo intensa atividade a favor dos mais pobres. Em 1970, num pronunciamento em Paris, denuncia, pela primeira vez, a prática de tortura contra presos políticos no Brasil.
Dom Hélder aposentou-se em abril de 1985, na Arquidiocese de Olinda e Recife, tendo organizado mais de 500 comunidades eclesiais de base e sendo substituído pelo arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho. No final dos anos 90, lançou a campanha "Ano 2000 Sem Miséria".
Aos 90 anos, faleceu em casa, de insuficiência respiratória, no dia 27 de agosto de 1999, após ficar por alguns dias internado, com pneumonia. Foi sepultado na Igreja da Sé, em Olinda.
Dom Hélder Câmara escreveu 22 livros, que tiveram grande repercussão, sendo traduzidos em várias línguas
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